LIVRO: “A Valsa dos Pecados”,
de Carlos Porfírio
Ed. Âncora Editora, Maio de 2017
Enquanto amante da
literatura, não consigo encontrar nada pior do que um mau livro. Desconfortavelmente,
recordo-lhe o primeiro encontro, a capa e o título, algumas palavras
esparsas a propósito dos seus méritos, no caso concreto pela pena
de quatro nomes consagrados que me escuso de enunciar. O compromisso assumido de me dedicar a ele
por inteiro e, com o meu tempo e a minha dispobilidade, honrar o
empenho que o escritor pôs na sua feitura. A desilusão ao perceber, à medida que
avanço página a página, que a história não ultrapassa a fasquia
da banalidade, a escrita é pobre, as figuras de estilo repetem-se e
a vontade de abandonar a leitura cresce a cada instante.
Vem isto a propósito de “A Valsa dos
Pecados”, de Carlos Porfírio, o qual li estoicamente até ao fim, num exercício próximo do masoquismo.
Cobrindo um período de quatro décadas na vida de um homem simples
que faz o seu caminho na alta roda da finança e dos negócios, o
livro pode ser interpretado como um retrato de certas personagens que
conhecemos das manchetes de jornais e revistas, nem sempre pelos
melhores motivos. Do coração de África nos tempos da Guerra
Colonial ao império empresarial que se espalha por quatro
continentes, o percurso deste homem daria azo a um romance fantástico,
não fora o caso de Carlos Porfírio se mostrar tão inábil na sua
escrita, tão incapaz de conferir emoção ao protagonista do livro e
às suas histórias de vida.
A acção avança e os momentos
históricos sucedem-se, sem que daí se extraia qualquer valor
narrativo. A revelação dos casos amorosos que atravessam a vida
deste homem têm tanto de entusiasmante como a visão da chuva a
bater nas vidraças. De tão escassamente detalhada, a ascensão
económica e social da personagem principal cifra-se num mistério.
Pior do que isso, a forma complacente como a figura deste homem nos é
apresentada faz dele um indivíduo nebuloso e ambíguo, gerando no
leitor o sentimento desconfortável de estar a investir tempo e
paciência em matéria indecifrável. Hesitante e inconsistente, “A
Valsa dos Pecados” é dos exercícios de leitura mais frustrantes
de que tenho memória. Um equívoco para quem procura, num livro, um
momento de prazer.
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