EXPOSIÇÃO: “Livre Mente”
Mostra colectiva, com curadoria de
Sérgio Almeida
5ª Bienal Internacional de Arte
Gaia 2019
Quinta de Fiação de Lever
24 Abr > 20 Jul 2019
A história da arte está repleta de
situações em que duas ou mais expressões artísticas se fundem num
mesmo trabalho. Mussorgsky foi beber à pintura para compor a obra
sinfónica “Quadros de Uma Exposição”, o teatro, o cinema ou a
dança alimentam-se, em grande medida, de adaptações de grandes
obras literárias e ainda recentemente um músico foi distinguido com
o Prémio Nobel da Literatura pela qualidade dos seus poemas, para
citar apenas alguns exemplos. É mais nesta vertente do artista que
reparte o seu trabalho por várias formas de arte – mas também na
junção de várias expressões num único trabalho, como é
inevitável que assim seja -, que deve ser vista “Livre Mente”,
exposição que congrega um conjunto de trabalhos de artistas que têm
em comum o facto de serem conhecidos do grande público como figuras
ligadas à Literatura. Com curadoria de Sérgio Almeida, jornalista e
escritor, “Livre Mente” é uma mostra dentro dessa mostra maior
que dá pelo nome de 5ª Bienal Internacional de Arte Gaia 2019,
podendo ser apreciada na Quinta de Fiação de Lever.
Em “Livre Mente”, o visitante tem a
oportunidade de se cruzar com Teolinda Gersão, Álvaro Domingues,
Gonçalo M. Tavares, Pedro Chagas Freitas, João Reis, Afonso Cruz e
tantos outros escritores, percebendo o quanto a sua arte vai muito
além dessa coisa dos livros. De Afonso Reis Cabral, temos uma
pintura que parece inspirada no “Trolley Hunters”, de Banksy, os
carrinhos de supermercado substituídos aqui por um livro. A Arte Urbana
serve de inspiração a Manuel Andrade, enquanto Filipa Leal, Minês
Castanheira ou Paulo M. Morais viram o seu olhar para a fotografia.
Pedro Vieira revela, com humor (sempre!), a sua faceta de
caricaturista, tal como Valter Hugo Mãe, que aqui nos oferece uma
belíssima homenagem a algumas das suas referências literárias. E
há ainda, entre muitos outros autores, Aurelino Costa, com uma
lindíssima aguarela que Miró não desdenharia “perfilhar”, uma
colagem de Mário Cláudio, uma pintura a pastel de Richard Zimler
retratando o “seu” Benjamin Zarco, um óleo de Daniel
Maia-Pinto Rodrigues e uma preciosa instalação textil - “Mandala
de Histórias” -, de Clara Haddad.
O que há de mais estimulante em “Livre
Mente” é precisamente o olhar para o “objecto acabado” e
perceber como ele representa um ciclo que se fecha sobre si próprio.
Isto é, de como a literatura é o objecto unificador e de como se
assume como expressão máxima de liberdade. Liberdade que se oferece
e se reclama na fotografia que Rui Machado nos apresenta e que se
intitula “O Voo dos Silenciosos”. A esse propósito, o autor
escreve: “À luz da liberdade de expressão, pode-se esquecer a
penumbra dos que ainda são silêncio. Mesmo aqueles que são maus em
contas, constatam que “ser livre” são duas palavras; (…).
Antes de ser livre é preciso ser. A liberdade precisa de um corpo e
de uma voz para ser tudo aquilo que é. Para se falar é condição
primeira dar voz. Existe um conjunto de portugueses que ainda não a
tem, por permanecerem na sombra e na invisibilidade, sem lhes ser
concedida a extraordinária oportunidade de ser, de existir. Eu sei
que estão prontos para LivreMente experimentarem a inteireza da
vida.” Só por si, este “grito” do autor já seria suficiente
para que visitar a exposição fosse uma obrigação. Mas há mais
gritos a clamar por nós!
Tenho pena que o único escritor que realmente tem alguma propriedade dentro das artes plásticas ou do desenho, entre os presentes na Exposição, não tenha sido mencionado neste artigo. Falo de mim mesmo, Jorge Taxa.
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