CINEMA: “Um Guia Para a Vida” / “Green Book”
Realização | Peter Farrelly
Argumento | Nick Vallelonga, Brian
Hayes Currie, Peter Farrelly
Fotografia | Sean Porter
Montagem | Patrick J. Don Vito
Interpretação | Viggo Mortensen,
Mahershala Ali, Linda Cardellini, Sebastian Maniscalco, Dimiter D.
Marinov, Mike Hatton, P. J. Byrne
Produção | Jim Burke, Brian Hayes
Currie, Peter Farrelly, Nick Vallelonga, Charles B. Wessler
Estados Unidos | 2018 | Biografia,
Comédia, Drama | 130 minutos | M/12
UCI Arrábida 20 | Sala 1
11 Fev 2019 | seg | 16:15
No início dos anos 60, a luta pelos
direitos civis na sociedade americana centrava-se sobretudo na
questão racial, a discriminação e o segregacionismo a marcarem o
quotidiano de distintos grupos étnicos, em particular os
afro-americanos. Os limites estavam muito bem estabelecidos e quem
ousasse quebrar a norma sabia com o que podia contar. Estes momentos
difíceis, de enormes tensões sociais e políticas e que dividiram
fortemente a América, constituem um filão praticamente inesgotável
de histórias e memórias e que o cinema tem sabido explorar, ainda que
nem sempre com os melhores resultados. É nesta linha que se insere
“Um Guia Para a Vida”, filme de Peter Farrelly baseado em factos
reais e que narra a história dum motorista italo-americano que,
ironicamente, trabalha para um pianista negro, naquilo que pode ser
visto como uma versão invertida de “Driving Miss Daisy”.
A história tem início em 1962, com o
o encerramento temporário da discoteca onde Tony Lip (Viggo Mortensen) trabalhava como
segurança, lançando-o no desemprego. Disposto a aceitar qualquer
trabalho, conhece Don Shirley (Mahershala Ali), um famoso pianista negro que procura
alguém que, durante a digressão de oito semanas que está prestes a
fazer pelo Sul do país, ocupe simultaneamente os cargos de motorista
e de segurança. Mas os temperamentos de cada um, diametralmente
opostos, irão transformar a viagem num verdadeiro desafio. É uma
viagem conturbada através duma América intolerante e profundamente
racista, mas é também uma viagem de descoberta interior, com
momentos hilariantes e situações de verdadeira catarse que resulta redentora para ambos.
Metáfora intensa sobre a utópica
igualdade entre dois indivíduos que têm, à partida, tudo a
separá-los, o filme prova que há barreiras que podem ser vencidas e
que a amizade nada tem a ver com a cor da pele. Entre o drama
biográfico e a comédia, “Um Guia Para a Vida” expõe a
ignomínia do racismo e a estereotipificação dos emigrantes, ao mesmo tempo que exalta
o multiculturalismo graças às excelentes interpretações de Viggo
Mortensen e Mahershala Ali. É forçoso reconhecer que o argumento é
simplista, se encontra carregado de “clichés” e cai, com
frequência, no convencionalismo, mas chega a ser tocante a honestidade posta na forma como a história é contada, sem lugar a falsos moralismos, como o título em português pretende fazer crer. Sem deslumbrar, é um filme correcto, o que nos dias que
correm não é coisa de somenos.
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