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quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

CINEMA: "Um Guia Para a Vida"



CINEMA: “Um Guia Para a Vida” / Green Book”
Realização | Peter Farrelly
Argumento | Nick Vallelonga, Brian Hayes Currie, Peter Farrelly
Fotografia | Sean Porter
Montagem | Patrick J. Don Vito
Interpretação | Viggo Mortensen, Mahershala Ali, Linda Cardellini, Sebastian Maniscalco, Dimiter D. Marinov, Mike Hatton, P. J. Byrne
Produção | Jim Burke, Brian Hayes Currie, Peter Farrelly, Nick Vallelonga, Charles B. Wessler
Estados Unidos | 2018 | Biografia, Comédia, Drama | 130 minutos | M/12
UCI Arrábida 20 | Sala 1
11 Fev 2019 | seg | 16:15


No início dos anos 60, a luta pelos direitos civis na sociedade americana centrava-se sobretudo na questão racial, a discriminação e o segregacionismo a marcarem o quotidiano de distintos grupos étnicos, em particular os afro-americanos. Os limites estavam muito bem estabelecidos e quem ousasse quebrar a norma sabia com o que podia contar. Estes momentos difíceis, de enormes tensões sociais e políticas e que dividiram fortemente a América, constituem um filão praticamente inesgotável de histórias e memórias e que o cinema tem sabido explorar, ainda que nem sempre com os melhores resultados. É nesta linha que se insere “Um Guia Para a Vida”, filme de Peter Farrelly baseado em factos reais e que narra a história dum motorista italo-americano que, ironicamente, trabalha para um pianista negro, naquilo que pode ser visto como uma versão invertida de “Driving Miss Daisy”.

A história tem início em 1962, com o o encerramento temporário da discoteca onde Tony Lip (Viggo Mortensen) trabalhava como segurança, lançando-o no desemprego. Disposto a aceitar qualquer trabalho, conhece Don Shirley (Mahershala Ali), um famoso pianista negro que procura alguém que, durante a digressão de oito semanas que está prestes a fazer pelo Sul do país, ocupe simultaneamente os cargos de motorista e de segurança. Mas os temperamentos de cada um, diametralmente opostos, irão transformar a viagem num verdadeiro desafio. É uma viagem conturbada através duma América intolerante e profundamente racista, mas é também uma viagem de descoberta interior, com momentos hilariantes e situações de verdadeira catarse que resulta redentora para ambos.

Metáfora intensa sobre a utópica igualdade entre dois indivíduos que têm, à partida, tudo a separá-los, o filme prova que há barreiras que podem ser vencidas e que a amizade nada tem a ver com a cor da pele. Entre o drama biográfico e a comédia, “Um Guia Para a Vida” expõe a ignomínia do racismo e a estereotipificação dos emigrantes, ao mesmo tempo que exalta o multiculturalismo graças às excelentes interpretações de Viggo Mortensen e Mahershala Ali. É forçoso reconhecer que o argumento é simplista, se encontra carregado de “clichés” e cai, com frequência, no convencionalismo, mas chega a ser tocante a honestidade posta na forma como a história é contada, sem lugar a falsos moralismos, como o título em português pretende fazer crer. Sem deslumbrar, é um filme correcto, o que nos dias que correm não é coisa de somenos.

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