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sexta-feira, 16 de novembro de 2018

TEATRO: "Do Alto da Ponte"




TEATRO: “Do Alto da Ponte”,
de Arthur Miller
Encenação | Jorge Silva Melo
Cenografia e Figurinos | Rita Lopes Alves
Interpretação | Américo Silva, Joana Bárcia, Vânia Rodrigues, António Simão, Bruno Vicente, André Loubet, Tiago Matias, Hugo Tourita, Gonçalo Carvalho, João Estima, Hélder Braz, Inês Pereira/Sara Inês Gigante, Romeu Vala, Miguel Galamba
Produção | Artistas Unidos, Teatro Viriato, São Luiz Teatro Municipal, Teatro Nacional S. João
14 Nov 2018 | qua | 19:00


Recordado como um gigante do teatro contemporâneo americano, Arthur Miller é considerado um dos grandes retratistas da América do pós-guerra. A ele se devem clássicos como “A Morte de Um Caixeiro Viajante” (1949), “As Bruxas de Salém” (1955), o argumento de “Os Inadaptados”, obra-prima da sétima arte assinada por John Huston (1961) ou este “Do Alto da Ponte” (1955), a primeira incursão dos Artistas Unidos na obra do dramaturgo e que chega agora ao Teatro Nacional S. João, no Porto.

Baseada em factos reais, a peça debruça-se sobre a conflitualidade que estala em casa dos Carbone, uma família constituída por Eddie, estivador num dos muitos portos de Brooklyn, na margem esquerda do East River, a esposa Beatrice e a sobrinha Catherine, que o casal criou após a morte da mãe desta. O precário equilíbrio no seio familiar vê-se mais abalado ainda com a vinda de Itália de dois primos, emigrantes ilegais, sobretudo quando o mais novo dos dois, solteiro, fixa as suas atenções na sobrinha do casal. Dá-se então início a um jogo marcado pela imoralidade de sentimentos como a suspeição, o ciúme, a delação e a traição, o qual terminará da forma mais trágica, sob o manto da vingança.

Estendendo-se da família ao espaço lato da sociedade, este drama moderno remete, ainda que indirectamente, para a sinistra figura do macartismo. É, nessa medida, um pedaço do mundo de Arthur Miller que se abre em palco, sentido de forma intensa por um homem que foi, ele mesmo, vítima da famigerada caça às bruxas. As emoções que percorrem “Do Alto da Ponte” são devidas à mestria de Miller, que tão bem soube construir as histórias de vida da família Carbone e dos que com ela se relacionam, numa parábola que acaba por se revelar extraordinariamente actual. Jorge Silva Melo soube dosear a peça entre o contido e o impulsivo, preenchendo de emoção um palco praticamente despido de adereços. O resultado salda-se em duas horas de excelente teatro, ancorado nas interpretações dum belíssimo naipe de actores, com destaque para a figura de Beatrice, numa notável composição de Joana Bárcia. Para ver até 25 de Novembro.

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