CINEMA: “Ramiro”
Realização | Manuel Mozos
Argumento | Telmo Churro e
Mariana Ricardo
Fotografia | João Ribeiro
Montagem | Pedro Filipe Marques
Interpretação | António
Mortágua, Madalena Almeida, Fernanda Neves, Vítor Correia, Sofia
Marques, Américo Silva, Ricardo Aibéo, Cristina Carvalhal, Sara
Carinhas
Produção | Sandro Aguilar e
Luis Urbano
Portugal | 2017 | Drama | 101
minutos
Cinema Dolce Espaço, Ovar
02 Mar 2018 | sex | 16:00
Ramiro João - o Ramiro do título
deste filme de Manuel Mozos - é um chato. Dono duma livraria
alfarrabista e poeta em perpétuo bloqueio criativo, vagueia entre a taberna e a loja, tendo no cão, nalguns
amigos e em duas vizinhas os únicos interlocutores. Cordato com os
estranhos, é quase intratável com aqueles que lhe são próximos,
gerando anticorpos e mostrando-se relutante a qualquer demonstração de afecto. É um cínico, tem inveja dos escritores bem sucedidos e é distraído. É sobretudo um tímido, incapaz de se aproximar dos outros. Mas preocupa-se com eles e sabe estar junto das pessoas quando elas realmente precisam. E depois há a sua poesia, que quando sai cá para fora é duma beleza incomum, fazendo vir ao de cima essa luta interior entre o ser e o parecer.
Acrescente-se que é num microcosmos de bairro que o filme se desenvolve e que, para “apimentar” a coisa, Manuel Mozos convoca alguns imponderáveis dignos de telenovela, mas que esbarram nesta figura entre o frustrado e o conformado que é Ramiro, por quem é difícil nutrir alguma simpatia. Há, contudo, algo no filme que nos faz aproximar da personagem, que nos impele a compreendê-la e a ceitá-la. Não saberemos nada do seu passado, mas a forma como ele é convocado torna o filme apelativo. Há, ainda, as evidentes marcas da crise dum País sob o jugo da troika e apetece dizer que o País deste file é o País real. Comezinho, limitado e, sobretudo, triste. Assim mesmo, o país real.
Não se dará o caso de embandeirar em arco com “Ramiro”, embora estejamos perante um filme interessante, pelo que desperta no espectador. Sem grandes artifícios, baseando a sua estética no “cinema do real”, o filme de Manuel Mozos apanha um pedaço de vida e procura mostrá-lo tal qual é. Podia até ser um documentário se a sua mensagem fosse mais dirigida – a solidão duma idosa, a ousadia de ser mãe-solteira, o drama dum preso que está morto para alguns – e não uma história ficcionada que fala dos pequenos-nadas de que a vida é feita. No final fica o essencial, ou seja, fica a verdade de que, em cada um de nós, há um pouco deste Ramiro.
Acrescente-se que é num microcosmos de bairro que o filme se desenvolve e que, para “apimentar” a coisa, Manuel Mozos convoca alguns imponderáveis dignos de telenovela, mas que esbarram nesta figura entre o frustrado e o conformado que é Ramiro, por quem é difícil nutrir alguma simpatia. Há, contudo, algo no filme que nos faz aproximar da personagem, que nos impele a compreendê-la e a ceitá-la. Não saberemos nada do seu passado, mas a forma como ele é convocado torna o filme apelativo. Há, ainda, as evidentes marcas da crise dum País sob o jugo da troika e apetece dizer que o País deste file é o País real. Comezinho, limitado e, sobretudo, triste. Assim mesmo, o país real.
Não se dará o caso de embandeirar em arco com “Ramiro”, embora estejamos perante um filme interessante, pelo que desperta no espectador. Sem grandes artifícios, baseando a sua estética no “cinema do real”, o filme de Manuel Mozos apanha um pedaço de vida e procura mostrá-lo tal qual é. Podia até ser um documentário se a sua mensagem fosse mais dirigida – a solidão duma idosa, a ousadia de ser mãe-solteira, o drama dum preso que está morto para alguns – e não uma história ficcionada que fala dos pequenos-nadas de que a vida é feita. No final fica o essencial, ou seja, fica a verdade de que, em cada um de nós, há um pouco deste Ramiro.
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