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quinta-feira, 18 de dezembro de 2025

CONCERTO: Orquestra Filarmonia das Beiras & Anabela



CONCERTO: Orquestra Filarmonia das Beiras & Anabela
Direcção musical | Filipe Fonseca
Centro de Artes de Ovar
13 Dez 2025 | sab | 21:30


Ano após ano, a quadra natalícia regressa envolta em brilho e emoção, feita de memória e afectos, esperança e desejo de comunhão. Nesse território terno e delicado, encontram os concertos de Natal o seu lugar mais pleno, como rituais contemporâneos que são de promoção do encontro e da partilha. Imbuídos deste espírito natalício, foram muitos aqueles que quiseram celebrar o momento através da música, abraçando o convite do Município de Ovar a escutar a Orquestra Filarmonia das Beiras e a sua convidada especial, Anabela, figura incontornável do nosso panorama musical, ao encontro das mais simbólicas canções de Natal e de melodias intemporais que habitam a nossa memória coletiva, essas que reconhecemos antes mesmo de as ouvir por inteiro. Mais do que um alinhamento festivo, o concerto assumiu-se como um gesto de proximidade, capaz de reunir diferentes gerações num mesmo sentimento de júbilo sereno, cada tema a mostrar-se capaz de reacender a ideia de pertença e de humanidade partilhada.

Combinando o apuro técnico e a sensibilidade dos músicos, com o timbre harmonioso e cristalino de uma voz que dispensa apresentações, o Concerto de Natal foi um momento de celebração elegante e acessível, a tradição de mãos dadas com um tratamento sinfónico luminoso e disciplinado. Sob a direção segura de Filipe Fonseca, maestro convidado, o programa construiu-se como uma viagem contínua pelo imaginário natalício, mais evocativa do que solene, mais calorosa do que monumental. Apenas com a orquestra em palco, o início do programa fez-se ao som da “Abertura e Marcha d’O Quebra Nozes”, de Tchaikovski, abrindo espaço à voz da convidada e à criação de um mosaico de melodias familiares que começou a desenhar-se em temas como “Let it Snow”, “The Christmas Song” ou “Somewhere Over the Rainbow”. Nas asas do sonho, o público teve tempo de respirar em passagens contemplativas para, logo de seguida, ser arrastado por um impulso jubiloso, num equilíbrio eficaz entre contenção e exuberância. Seguiram-se quatro temas integrantes das versões em português de outros tantos filmes de animação, reveladores de uma vontade clara de ampliar o horizonte do concerto sem quebrar a coerência do conjunto.

Curiosamente, não foi uma canção de Natal aquela que melhor caiu nas boas graças do público, levando à sua repetição no “encore”. Era obrigatório revisitar “A Cidade até ser Dia”, tema que Anabela levou ao Festival Eurovisão da Canção em 1993, na altura com apenas 16 anos, e a cantora não se fez rogada, arrancando o mais caloroso aplauso do serão. Com enorme sensibilidade e sem recorrer a excessos interpretativos, Anabela e a Orquestra foram capazes de criar uma atmosfera a remeter para uma certa intimidade doméstica que tanto associamos ao Natal, estabelecendo uma enorme empatia com o público e fazendo dele, a espaços, o seu “coro”. Depois de nova pausa para mais um momento instrumental - ainda e sempre com Tchaikovski e “O Quebra Nozes” -, a cantora regressou aos clássicos, fazendo de “My Favourite Things”, “Sleigh Ride”, “Have Yourself a Merry Little Christmas” e “Jingle Bells” um fecho com chave de oiro. Longe de procurar um virtuosismo ostensivo, o concerto afirmou-se pela competência colectiva e pela capacidade de transformar música amplamente conhecida numa experiência viva, pensada tanto para a escuta atenta como para acompanhar, em pano de fundo, o ritual humano e repetido do Natal. Um momento inesquecível de celebração e partilha, tão belo quanto necessário nos dias que vivemos.

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