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quarta-feira, 29 de outubro de 2025

EXPOSIÇÃO DE DESENHO E PINTURA: “Transe” | Rui Moreira



EXPOSIÇÃO DE DESENHO E PINTURA: “Transe”,
de Rui Moreira
Curadoria | João Pinharanda
Centro de Arte Contemporânea Graça Morais
05 Jul > 14 Dez 2025


Após a sua passagem pelo MAAT - Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia, “Transe” ruma a Bragança e ao Centro de Arte Contemporânea Graça Morais, onde estará patente ao público até 14 de Dezembro de 2025. Trata-se da primeira exposição antológica do artista português Rui Moreira, reunindo um conjunto alargado de desenhos e pinturas sobre papel, de médio e muito grande formato. O título escolhido pelo artista para esta exposição, “Transe”, revela a intensidade que coloca na realização das suas obras e a energia que através delas pretende transmitir. Essas obras, de trabalho minucioso e que exigem um tempo de execução lento e profundo, resultam da convocação simultânea de forças primordiais, e citações eruditas, com referências a Herberto Helder – poeta muito presente na obra de Rui Moreira –, Cormac McCarthy ou Marcel Proust, nos quais procura inspiração para temas e títulos de algumas das suas obras.

Com cores altamente sedutoras, embora restritas, as pinturas sobre papel variam entre o abstracto e o figurativo, e revelam o absoluto perfeccionismo que o artista emprega no seu processo de trabalho. Rui Moreira coloca-se, muitas vezes, em territórios e experiências extremas para desenvolver o seu trabalho. Estas experiências podem ser meteorológicas – em altas temperaturas no deserto, em Marrocos –, ritualísticas, fazendo parte e desfilando com um grupo de caretos, personagens mascarados, que integram festividades pagãs do Carnaval em certas aldeias de Trás-os-Montes, ou até mesmo de exaustão – horas sem fim passadas em atelier, a trabalhar freneticamente –, atingindo estados espirituais geradores de novos territórios de criação.

No trabalho de Rui Moreira existe uma multiplicidade de narrativas, referências e simbologias. Nas obras figurativas, revelam-se detalhes de roupas, adereços e gestualidades (citações recolhidas entre o Japão e o Norte de África, Trás-os-Montes, Índia e Amazónia) que acentuam o valor simbólico das personagens (figuras humanas, animais ou vegetais) que ora contracenam ora se fundem. Nas suas obras não figurativas, por sua vez, encontramos elementos soltos (cruzes, segmentos lineares ou polígonos) que criam zonas hipnóticas relacionáveis com a arte islâmica, as mandalas hindus, as rosáceas medievais ou a ilusão de uma composição modernista e racional. Finalmente, nas suas paisagens, a terra, o mar e o céu fundem-se, multiplicando e sobrepondo pontos de vista. A exposição viaja através destes núcleos de figuração, não-figuração e paisagem, sem obedecer a nenhuma regra cronológica.

Com uma carreira com mais de 20 anos, Rui Moreira é um dos mais significativos artistas portugueses dos revelados na primeira década deste século e um dos que apresenta um currículo internacional mais consolidado. Nasceu no Porto, em 1971, e estudou no ar.co – centro de arte e comunicação visual em Lisboa e no Art Institute of Chicago. O seu trabalho é frequentemente orientado pelas suas viagens e explorações. Em 2014, o Mudam Luxembourg – Musée d'Art Moderne Grand-Duc Jean apresentou “I Am a Lost Giant in a Burnt Forest”, uma ampla exposição da sua obra. Em 2023 o seu trabalho foi incluído numa exposição coletiva intitulada “I II III IV V – cinco décadas de ar.co – centro de arte e comunicação visual”, realizada no Museu Nacional de Arte Contemporânea – Museu do Chiado. Rui Moreira colabora com a galeria Jeanne Bucher Jaeger desde 2008, tendo apresentado várias exposições individuais, a mais recente das quais “The Passengers”, em 2022.

[Extraído do texto de João Pinharanda, a propósito da exposição patente no MAAT - Museu de Arte Arquitectura e Tecnologia, em https://maat.pt/pt/event/rui-moreira-transe]

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