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segunda-feira, 8 de setembro de 2025

EXPOSIÇÃO DE CERÂMICA: Portugal Cerâmico



EXPOSIÇÃO DE CERÂMICA: Portugal Cerâmico
Vários artistas
Associação Portuguesa de Cidades e Vilas de Cerâmica
Galeria António Lopes - Covilhã
07 Ago > 28 Set 2025


A cerâmica em Portugal possui raízes muito antigas, remontando ao período pré-romano, com vestígios de produção cerâmica datando da Idade do Ferro. Contudo, foi com a romanização da Península Ibérica que a cerâmica se consolidou como actividade estruturada, quer para fins utilitários — ânforas, talhas, utensílios domésticos —, quer para fins decorativos. Durante a Idade Média, sobretudo com a influência árabe, a cerâmica portuguesa enriqueceu-se tecnicamente, com o aperfeiçoamento do torno e o uso de vidrados e motivos geométricos ou vegetalistas. No período moderno, a produção diversificou-se ainda mais, acompanhando as necessidades do mundo rural e urbano: panelas, alguidares, potes, mas também azulejos e loiça artística. A tradição manteve-se viva nas aldeias e vilas, passada de geração em geração, com saberes empíricos e técnicas adaptadas aos recursos locais — como o barro vermelho, amarelo ou branco. Esta persistência ao longo dos séculos faz da cerâmica uma das expressões mais autênticas do património cultural imaterial português.

Os principais centros cerâmicos em Portugal distribuem-se por várias regiões, reflectindo a diversidade geológica e cultural do país. Destacam-se, a norte, Bisalhães (Vila Real), famoso pela sua olaria negra — hoje Património Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO —, e Barcelos, onde a cerâmica assume uma vertente mais decorativa e comercial. No centro, destaca-se o concelho de Tondela, também com produção de barro negro, Condeixa e Caldas da Rainha, que combinaram a olaria tradicional com a cerâmica artística, sobretudo a partir do legado de Rafael Bordalo Pinheiro, neste último caso. No Alentejo, os núcleos de Viana do Alentejo, Redondo, Reguengos de Monsaraz e Estremoz mantêm uma forte tradição, com peças utilitárias e decorativas, muitas vezes pintadas à mão e com motivos florais. Nos Açores destaca-se Vila Franca do Campo, graças ao trabalho de recuperação de uma actividade que se mostra hoje em expansão, tanto nas peças utilitárias como de intenção artística. 

Actualmente, a cerâmica portuguesa enfrenta desafios sérios, que vão do envelhecimento dos mestres oleiros à dificuldade às alterações nos hábitos de consumo. Contudo, há também sinais positivos que apontam para a sua revitalização, com a criação de projectos de design colaborativo, turismo criativo, certificações de origem e iniciativas de educação patrimonial — e que mostram um futuro possível, onde tradição e inovação possam conviver em equilíbrio. Fundada em 2018, a Associação Portuguesa de Cidades e Vilas de Cerâmica insere-se nesta dinâmica de promoção do património cultural associado à atividade cerâmica, integrando até à data trinta e um municípios associados. “Portugal Cerâmico”, a exposição que por estes dias pode ser vista na Galeria António Lopes, no coração da Covilhã, é o corolário lógico deste trabalho de promoção da cerâmica nacional, dando a ver um conjunto de peças representativas de cada um destes territórios, levando o visitante a desfrutar de uma viagem de descoberta e conhecimento do património português.

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