EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Venham Mais Cinco - O Olhar Estrangeiro Sobre a Revolução Portuguesa”,
de Alain Keller, Alain Mingam, Alécio de Andrade, Augusta Conchiglia, Benoît Gyembergh, Dominique Issermann, Fausto Giaccone, François Hers, Gérard Dufresne, Gilbert Uzan, Giorgio Piredda, Guy le Querrec, Henri Bureau, Hervé Gloaguen, Jacques Haillot, Jean Gaumy, Jean-Claude Francolon, Jean-Paul Miroglio, Jean-Paul Paireault, José Sanchez-Martinez, Michel Giniès, Michel Puech, Paola Agosti, Perry Kretz, Rob Mieremet, Sebastião Salgado, Serge July, Sylvain Julienne, Uliano Lucas, Vojta Dukát
Curadoria | Sérgio Tréfaut
Consultadoria científica | Luísa Tiago de Oliveira
Parque Empresarial da Mutela, Almada
24 Mai > 24 Ago 2025
Entre 25 de Abril de 1974 e 25 de Novembro de 1975, Portugal foi manchete quase diária de toda a imprensa internacional. Nunca nada de semelhante acontecera ou viria a acontecer no país, por um período de tempo tão alargado. O fim abrupto de uma ditadura de 48 anos, o início da democratização que parecia seguir por caminhos inesperados, as dúvidas a respeito do processo de independência de grandes países africanos, tudo fazia com que o mundo inteiro voltasse os olhos para Portugal. De um dia para o outro, aterraram em Lisboa fotógrafos das maiores agências internacionais, jovens e veteranos, que captaram imagens por todo o país, acompanhando a sucessão vertiginosa dos acontecimentos. Muitos vieram em missões de curta duração, outros instalaram-se vários meses para perceber e retratar o que se passava. Quase tudo era surpreendente para os estrangeiros: a situação política inédita num país europeu, o quotidiano dos portugueses, a forma como a política entrava na vida da população. Eram fotógrafos experientes. Tinham um olhar incisivo, procuravam imagens para as capas das revistas de maior tiragem, mas também revelavam empatia, encantamento e genuíno interesse antropológico. Durante cerca de um ano e meio, fotografaram tudo.
A galeria de imagens desta extraordinária exposição começa no final de Abril, quando o golpe de Estado do Movimento das Forças Armadas se transforma em revolução, com as ruas cheias de uma população a quem fora pedido para ficar em casa, e que, pelo contrário, subia para cima dos tanques, entregava café e flores aos soldados, gritava o desejo de liberdade e chorava de alegria. Há imagens da detenção dos agentes da PIDE (prémio World Press Photo 1974, de Henri Bureau), mas também fotografias de cravos nas espingardas que transmitiram ao mundo esse novo conceito: a Revolução dos Cravos. Muitos fotógrafos estiveram na tomada da sede da PIDE/DGS, na chegada dos exilados políticos e na irrepetível manifestação do primeiro de Maio de 1974, com soldados e marinheiros abraçados a uma população feliz como nunca fora. Nos meses que se seguiram, quando tudo podia acontecer e a surpresa era a regra do quotidiano, os fotógrafos seguiram as ocupações de fábricas, as nacionalizações, a Reforma Agrária, as Campanhas de Dinamização Cultural promovidas pelo MFA, o surgimento dos partidos políticos, as campanhas eleitorais para a Assembleia Constituinte.
Os mesmos fotógrafos voaram para Angola e Moçambique, procurando retratar o processo de descolonização e o regresso massivo de portugueses que viviam em África. A partir da segunda metade de 1975, transmitiram para o mundo imagens de um país dividido, com ataques às sedes do Partido Comunista e a outros movimentos de esquerda. Seguiram as ocupações do jornal República e da Rádio Renascença, bem como a politização crescente da Igreja Católica. Retrataram, finalmente, as tensões no exército, o conflito militar latente no 25 de Novembro e o sentimento de orfandade de alguns militares na base de Tancos. Depois do 25 de Novembro, foram deixando gradualmente o país. Alguns desses fotógrafos tornaram-se estrelas maiores do mundo da fotografia. Portugal terá sido um balão de ensaio, onde puderam provar que tinham a distância e a sabedoria necessárias para sintetizar em imagens um processo extremamente complexo.
As fotografias escolhidas, nunca reunidas e expostas em Portugal, dialogam entre si e permitem viajar num país em estado de excepção, “Outro País”, segundo o título do documentário que Sérgio Tréfaut realizou em 1999 sobre o tema. Dividida em quatro núcleos - “A Festa da Liberdade”, “Novas Formas de Poder”, “Independências” e “Um País Dividido” - “Venham Mais Cinco” foi concebida inicialmente para o vigésimo aniversário da Revolução e é organizada em homenagem a Margarida Medeiros, que esteve na origem do projecto, defendendo-o durante três décadas. As fotografias não surgem sempre de forma cronológica e articulam-se numa narrativa dramática, onde duas imagens de momentos diferentes podem estar lado a lado por contraste, estabelecendo choques e pontes. “Venham Mais Cinco” é o título da canção de José Afonso, originalmente escolhida pelos militares do MFA para ser tocada na Rádio Renascença na madrugada de 25 de Abril de 1974, como senha do início do golpe militar (tendo sido posteriormente substituída por “Grândola, Vila Morena”). O título da exposição é uma forma de homenagear José Afonso e esperar a chegada de mais cinco revoluções.
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