EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA E VÍDEO: “Palestine Here and There”,
de Ahlam Shibli
Artistas convidados | Ares Massalha, Ftama Hassona, Mohamed Harb, Monther Jawabreh, Rehaf Al Batniji
Curadoria | Paula Parente Pinto
RAMPA - Associação Cultural
12 Abr > 21 Jun 2025
Em solidariedade com a reivindicação de autonomia e liberdade do povo palestiniano e a exigência do fim da ocupação colonial da Palestina por Israel, a RAMPA - Associação Cultural convidou a artista Ahlam Shibli a apresentar o trabalho fotográfico que tem vindo a desenvolver sobre a reconstrução da identidade palestina nesse contexto de ocupação e militarização que provocou o êxodo do seu povo e constitui a principal causa do conflito árabe-israelita. Perante o fracasso das figuras centrais da política internacional e a desumanização dos media, a estética documental de Ahlam Shibli apresenta-se como uma ferramenta de reflexão crítica e uma forma de resistência. Justapondo registos sobre expropriação colonial, exclusão social, privação familiar e alienação sócio-sexual que caracterizam as condições de vida dos palestinianos e expandindo-os para outros contextos geopolíticos e sociais, Ahlam Shibli convoca uma nova geração a intervir e tomar consciência de uma construção imperialista e colonial repressora, com consequências humanamente devastadoras. Mas se a devastação pretende causar paralisia, a dialética e a constante viagem entre lugares, tempos e experiências são reveladoras da percepção fotográfica da artista, enformada pela capacidade de identificar outras e diferentes perspectivas de futuro, furtando-se a uma leitura unívoca e única.
Exemplar do valor da acção na esfera cultural, “Palestine Here and There” resulta do convite que Ahlam Shibli estendeu a Aref Massalha, Fatma Hassona, Mohamed Harb, Monther Jawabreh e Rehaf Al Batniji para sublinhar a importância de chamar a atenção mundial para novas e diferentes narrativas sobre os direitos do povo palestiniano e reivindicar a mudança como um sinónimo da sua resistência. Perante o exponencial confinamento entre muros, vedações e pontos de controlo, a destruição de vilas e cidades, a deslocação ou o aniquilamento de comunidades inteiras, a destruição de universidades e arquivos, o obscurecimento de histórias e narrativas, o apagamento de vozes e experiências e a recusa de reconhecer a igualdade de direitos para todos, nada parece mudar, mas o que muda é a consciência desta realidade. A consciência da conflituosa contradição de viver exilado e confinado nos muros erguidos pelo medo e acalentar a ténue esperança de um diálogo capaz de desatar um nó cada vez mais apertado. Além de documentarem a tragédia humana local, os artistas reunidos nesta exposição denunciam os limites da liberdade enquanto restrições éticas da condição humana.
Enquanto o mundo testemunha o êxodo e a massiva destruição da população palestiniana na Faixa de Gaza, uma nova geração de fotojornalistas, onde se incluí Fatma Hassona, reivindica a visibilidade de gestos silenciados que sobrevivem. No filme “Broken Dreams”, Mohamed Harb retrata também a experiência de uma nova geração palestiniana que, face a todas as adversidades políticas, económicas, sociais e de género, reivindica novas perspectivas para o futuro. Mesmo depois de ter perdido a casa e o seu estúdio num ataque aéreo israelita, Harb apresenta-nos uma série de fotografias dos seus filhos a desenhar na tenda onde vive actualmente com a família. Harb leva o projecto fotográfico para o seu espaço pessoal. A sua câmara percorre o estúdio danificado pela guerra em busca de imagens que retratem a tristeza e o desgosto que o assombram. Fotografa a catástrofe exposta na sua casa, passando depois para o convívio da sua família, numa privacidade de sem-abrigo. Rehaf Al Batniji utiliza diferentes experiências visuais para explorar narrativas e histórias. Em 2023, utiliza a câmara do seu telemóvel para captar e registar momentos do quotidiano familiar no meio da guerra e da decorrente destruição. Os acontecimentos podem ser banais, mas estão repletos de sugestões de medo e da ameaça de perda e morte.
Através do contexto simultaneamente específico e geral, privado e colectivo, local e internacional da pandemia da COVID 19, Aref Massalha, enfermeiro especialista numa unidade de cuidados intensivos em Jerusalém, alerta para a necessidade de construir um ambiente saudável, em vez de combater os problemas quando estes estão fora de controlo. O que nos chama a atenção ao passarmos pelas suas imagens é a relação inerente entre o aparelho e o corpo humano, o controlo do tempo e da morte. Nas imagens de Massalha, o corpo palestiniano tornou-se indefeso, agrilhoado e amarrado a estes aparelhos, incapaz de se mover. Trabalhando no contexto do activismo no espaço público da Cisjordânia, Monther Jawabreh explora os modos como a resistência e as suas formas de expressão são moldadas pelos principais desafios regionais e locais. “Onde há casa não há lar, onde há lar não há casa” é a expressão usada por Ahlam Shibli para resumir a situação do seu povo. Mais do que janelas abertas que permitem olhar de um lado para o outro, daqui para ali, as obras destes seis artistas tentam ser portas, estabelecer interiores e exteriores que, para além de olharem uns para os outros, permitem o movimento, o movimento livre entre aqui e ali, reversível e acolhedor. Uma exposição de visita obrigatória e urgente, para ver só até ao próximo dia 21 (visitas de quarta a sábado, das 15:00 às 19:00).
[Baseado em textos da Folha de Sala que acompanha a exposição]
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