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sexta-feira, 11 de abril de 2025

CONCERTO: "Concavexo" | NoA (trio)



CONCERTO: "Concavexo" | NoA (trio)
Com | Nuno Costa (guitarra), Óscar Marcelino da Graça (piano), André Sousa Machado (bateria) e Rão Kyao (flauta)
Ovar em Jazz 2025
Centro de Artes de Ovar
10 Abr 2025 | qui | 21:30


Surfar uma onda na Nazaré ou dar umas braçadas nas cálidas águas do Barril ou da Manta Rota? Ele há momentos para tudo, mas a questão não pode deixar de se colocar a propósito dos concertos que preencheram a primeira metade do Ovar em Jazz 2025. Se “Free Celebration”, de João Lencastre, foi essa descida vertiginosa de uma parede líquida, a onda a crescer e a rugir atrás de nós com a força de um milhão de cavalos, “Concavexo”, do NoA (trio) é aquela banhoca relaxada entre dois dedos de conversa ou o levantar os olhos de um livro da Bonnie Garmus. É tudo uma questão de adrenalina. Não é que a banhoca seja um contratempo ou um frete, mas pouco diz, pouco acrescenta, a uma tarde morna. Da mesma forma que dos NoA (trio) e da sua passagem por Ovar, daquilo que puderam (ou souberam) acrescentar a este particular festival de Jazz, não ficará para a história grande coisa. “Agora vamos tocar Jazz”, disse Nuno Costa, guitarrista da banda e cicerone de serviço, no momento que antecedeu um forçado segundo “encore”, já com o público a abandonar a sala. Mas agora, caro Nuno, “agora é tarde, Inês é morta”. Ainda assim, louve-se a franqueza. Afinal, “quem diz a verdade não merece castigo”.

Não foi, portanto, um concerto ao qual possamos chamar “de jazz”, por muito amplo que possa ser um “saco” onde (quase) tudo parece caber. Se nos conseguirmos abstrair deste facto, forçoso será reconhecer que também não foi um mau concerto. Acompanhadas de um atabalhoado trocar de guitarras, as palavras iniciais de Nuno Costa serviram para apresentar a banda - do Óscar (Marcelino da Graça), o senhor do piano, ao André (Sousa Machado), o senhor da bateria -, falar das suas origens e de uma carreira onde se incluem dois trabalhos discográficos, “Evidentualmente” (2020) e “Concavexo” (2022). Deste último escutou-se “Zás Trás!!”, a abrir o concerto, seguido de “Batista” e “Inquieto”, com “Valéria”, do primeiro álbum, de permeio. Com quase meia hora de concerto, as primeiras impressões levam a música dos NoA (trio) para um universo que se alimenta da pop e do rock em partes iguais. Elegante, a música não se furta a assumir a matriz inicial de uma banda que começou como um grupo de amigos, há treze anos, “a tocar nuns sunsets de praia, para nos divertirmos”. Se vista pela óptica da harmonia de conjunto, parece haver ali André Sousa Machado a mais e Óscar Marcelino da Graça a menos. Pelo menos a julgar pelo que deles conhecemos (e que tanto apreciamos) de outros projectos.

O grande momento da noite impõe-se com a chegada de Rão Kyao, um amigo que emprestou a sua colaboração à feitura de “Concavexo”. Que não restem dúvidas que foi por ele que a casa se apresentou tão bem composta, o público a fazer questão de mostrar o seu apreço a quem tanto vem acrescentado ao panorama musical português nos últimos cinquenta anos. Não defraudando os fãs, foi ele que soube impor a sua enorme técnica e virtuosismo em “Dança Ritual do Zambeze” e Passadas do Daitya”, dois temas da sua autoria que fazem parte do álbum “Aventuras da Alma” (2021) e também em “Por Shankar”, outro tema seu de “Coisas que a gente sente”, trabalho discográfico de 2012. Torna-se evidente a enorme afinidade que a sua música tem com sonoridades que remetem para a Índia, ponto fulcral de uma obra quase inteiramente dedicada à redescoberta do elo perdido entre a música portuguesa e a música do oriente. “Circo do Oriente”, um tema dos NoA (trio) de tributo a Rão Kyao surge neste contexto, acabando por se assumir como o mais belo momento do concerto. Em jeito de homenagem a Zeca Afonso, escutámos “Os Índios da Meia-Praia”, sendo justo reconhecer a genialidade de Rão Kyao, com uns breves apontamentos finais, a acrescentar-lhe vida e colorido. Enfim, “All the things you are”, standard com a assinatura de Jerome Kern, foi aquele momento de jazz fora de horas, que já nada veio acrescentar.

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