Páginas

quinta-feira, 20 de março de 2025

EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: "A Halt to Survive (Pandemic Times)" | Garcia de Marina



EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “A Halt to Survive (Pandemic Times)”,
de Garcia de Marina
iNstantes - Propostas Fotográficas #109
Centro de Reabilitação do Norte
19 Mar > 23 Abr 2025


Cinco anos decorridos sobre os primeiros casos (e as primeiras mortes) directamente relacionados com o coronavírus, já quase não se fala de uma pandemia que pôs o país em pausa mais de setecentos dias, entre cercas sanitárias, estados de emergência nos momentos críticos e situações de alerta no abrandar do número de casos. Sabemos hoje que, tal como se esperava, o vírus evoluiu para formas menos letais, mas vale a pena não esquecer os seus efeitos devastadores, com mais de 5,6 milhões de pessoas infectadas em Portugal (mais de metade da população) e cerca de 29 mil óbitos. Numa altura em que os cientistas vêm alertando para o risco de aparecimento de novas e mais agressivas variantes do coronavírus, importa perguntarmo-nos sobre o que aprendemos com a pandemia e se estaremos preparados para um novo embate. A exposição de Garcia de Marina, que acaba de ser inaugurada no Centro de Reabilitação do Norte, não responde a nenhuma destas questões, mas reforça a necessidade de reflectir sobre elas, graças a um conjunto de imagens que, muito subtilmente, transportam em si as nossas interrogações.

Num tempo de grande desinformação e manipulação da opinião púbica, baixar a guarda afigura-se uma imprudência cujas consequências podem ser dramáticas. Por esse motivo, uma exposição como “A Halt to Survive (Pandemic Times)” não poderia ser mais apropriada, recuperando uma tragédia que recheou o quotidiano de incertezas e alterou o nosso olhar perante a vida, como perante a morte. A obrigatoriedade da máscara, o encerramento dos espaços, o distanciamento social, as quarentenas forçadas, as filas de ambulâncias, os funerais sem adeus, os testes rápidos ou as vacinas, ganharam preponderância num mundo fechado a cadeado. É este mundo que Garcia de Marina traz de novo para primeiro plano graças às memórias que suscita, feitas de vivências nítidas a oscilarem entre o doloroso e o épico. Ao mesmo tempo, poder mostrar esta exposição num espaço que não ficou imune ao coronavirus – e que continua, ainda hoje, a reabilitar vítimas da pandemia, nomeadamente aquelas afectadas por essa nova entidade clínica designada por “long COVID” –, apenas reforça o seu significado e importância.

Olhando cada uma das imagens, percebemos que Garcia de Marina elege o objecto como meio de expressão. O seu trabalho gira entre as ideias e a intuição, entre o real e o onírico. O peso do seu olhar está no simbolismo, na carga emocional, na essencialidade, na ligação aleatória dos elementos, no convite formulado a que relacionemos um teste rápido com um sinal de trânsito, uma agulha com uma ampulheta ou um pedaço de arame farpado com a silhueta de uns pulmões. É um trabalho de suma inteligência, pontuado de humor e irreverência, que transforma e imprime novas identidades aos objectos, que se insurge contra o óbvio e abraça a grandeza que reside no que é simples. Naquilo que se esconde para lá do visível reside o fascínio da fotografia de Garcia de Marina, cuja visão marcadamente surrealista se assume como legítima herdeira dos paradoxos de Magritte ou da singeleza de Miró. “A Halt to Survive (Pandemic Times)” remexe o passado como quem busca certezas, faz-nos reviver a incógnita de um jogo com um adversário invisível e pergunta-nos, uma e outra vez, o que aprendemos com tudo isto.

Sem comentários:

Enviar um comentário