CONCERTO: “A tre: Música para trio nas cortes europeias do séc. XVIII”
Ensemble Navis
Com | Beatriz Soares (traverso), Paola Troiano (traverso), Claudia Cecchinato (violoncelo), Sayaka Matsunaga (cravo)
CásterAntiqua - Festival de Música Antiga de Ovar
Museu Júlio Dinis – Uma Casa Ovarense
22 Mar 2025 | sab | 16:00
Quando falta apenas o concerto de encerramento do CásterAntiqua – Festival de Música Antiga de Ovar, já começa a apossar-se de nós como que uma nostalgia, uma saudade, pelo vazio tão próximo. Um balanço preliminar desta primeira edição do Festival permite concluir que o objectivo de divulgar a Música Antiga e dar a ver as particularidades de um universo vasto, que se estende no tempo e abraça uma multiplicidade de géneros e estilos, foi claramente atingido. Ao longo de dois fins de semana, assistimos ao desenvolvimento de um programa rico e variado, graças às prestações de altíssimo nível, em distintos palcos, de um apreciável número de agrupamentos de renome. Mas o CásterAntiqua fez questão de não descurar as novas correntes, lançando uma Open Call internacional com o intuito de proporcionar a um grupo de jovens músicos a oportunidade de desenvolver uma residência artística. Ao longo de seis dias, o agrupamento seleccionado, o Ensemble Navis, trabalhou um programa musical original, com a mentoria de intérpretes que integraram a agenda musical do Festival. O resultado pôde ser apreciado na tarde de ontem, no Museu Júlio Dinis – Uma Casa Ovarense.
Centrando a sua atenção no ambiente das cortes europeias do século XVIII, o Ensemble Navis - Beatriz Soares, Paola Troiano, Claudia Cecchinato e Sayaka Matsunaga - propôs uma viagem pelo centro da Europa, visitando as cortes de Luís XIV e Luís XV em França, da princesa Guilhermina, irmã de Frederico o Grande, na Prússia, de Augusto, o Forte, na Polónia ou de Nicolau Esterházy, na Hungria. Mas não apenas as cortes, também os locais de culto foram alvo da atenção do Ensemble, penetrando na intimidade de conventos e igrejas como as de S. Tomás ou de S. Nicolau em Leipzig, de Santa Catarina em Frankfurt ou da Neue Kirche (Igreja Nova) em Arnstadt. “Triosonata No.1 em sol menor, da cravista parisiense Élisabeth Jacquet de La Guerre (1665-1729), e “Pièces pour la flûte traversière op.2”, do flautista “romano” Jacques-Martin Hotteterre (1673-1763), foram as duas peças de abertura do concerto, nelas se evidenciando uma forte noção de movimento a par de uma enorme delicadeza e frescura. O quarteto deu provas da necessária qualidade interpretativa, capaz de transmitir as emoções que se desprendem de ambas as peças, sabendo pôr em diálogo os instrumentos e criando grandes expectativas quanto ao restante programa.
“Triosonata em sol maior para duas flautas e baixo contínuo”, de Johann Sebastian Bach (1685-1750), foi, na sua complexidade e rigor meditativo, um dos momentos altos do concerto, tal como a peça seguinte, bem mais viva e alegre, “Musique de table: Trio em ré maior TWV 42:D5, de Georg Philipp Telemann (1681-1767), espécie de “banda sonora para um jantar”, assim ilustrada por Beatriz Soares, que fez as honras do agrupamento, com uma breve introdução inicial a cada uma das peças. Ainda que indirectamente, voltaríamos a Telemann, já que a peça que escutámos serviu de inspiração a Wilhelm Friedemann Bach, filho de Johann Sebastian Bach, para compor o seu “Trio em ré maior Fk 47”, com o qual se completou o alinhamento do concerto. Antes disso, porém, viveu-se outro momento feliz com a interpretação do “Divertimento Op.3 No.3 em ré menor”, de Anna Bon, peça de uma alegria contagiante escrita por uma compositora que foi uma “menina-prodígio” e que, aos quatro anos de idade, já estudava música no Ospedalle della Pièta, de Veneza. Os fortes e prolongados aplausos finais trouxeram com eles a recompensa de um “miminho”, “Pourquoy doux rossignol”, de Jean-Baptiste Drouart de Bousset, numa versão ornamentada por Michel Blavet, uma canção de amor e de mágoa muito bela e que se constituiu na melhor das despedidas.
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