TERTÚLIAS LITERÁRIAS: “Conversas às 5”,
com Dora Gago
Moderação | Joaquim Margarido Macedo
Centro de Reabilitação do Norte
06 Fev 2025 | qui | 17:00
As “Conversas às 5" regressaram ao Centro de Reabilitação do Norte na passada quinta-feira, trazendo ao encontro de doentes, colaboradores e visitantes a escritora Dora Gago. Doutorada em Literaturas Românicas Comparadas, mestre em Estudos Literários Comparados e licenciada em Português e Francês, foi investigadora e professora universitária no Uruguai, Macau, Estados Unidos e Portugal. Actualmente é investigadora doutorada integrada do Centro de Humanidades da Universidade Nova de Lisboa e lecciona também, a título de professora convidada, na Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Setúbal. É autora de livros de poesia, ficção, crónica e ensaio, tendo publicado o seu primeiro livro, “Planície de memória”, em 1997. “Floriram por engano as rosas bravas” e “Palavras nómadas”, este último distinguido com o Grande Prémio de Literatura de Viagens Maria Ondina Braga da Associação Portuguesa de Escritores / Câmara Municipal de Braga, são as suas obras mais recentes e foram elas que, em cima da mesa, serviram de base a um momento intensamente livre e enriquecedor de partilha de experiências e conhecimentos.
Tão distante e, porém, tão perto, o mar de permeio a desenhar-se em ouro e prata do lado de lá das vidraças da sala, o Oriente impôs-se na conversa, num inequívoco convite à viagem e ao sonho. Foi Macau o grande protagonista de uma hora de convívio franco e livre, em ambiente intimista, aberto aos presentes em mistério e magia no que encerra de choque cultural, as assimetrias e contradições de vastos territórios e culturas milenares como fonte de espanto e sedução. E foi de sedução que se constituíram as primeiras palavras, das primeiras letras numa pequenina aldeia do barrocal algarvio, onde Dora Gago nasceu e “onde ainda não chegava a luz eléctrica”, ao poema “Peregrina do Amor”, publicado numa revista no início da adolescência. Mas foi, sobretudo, a sedução decorrente da experiência de uma visita a Macau e Hong Kong, em Agosto de 1991, a cultura portuguesa tão presente, certos traços arquitectónicos a mostrarem Macau como território intrinsecamente português, que levaram a convidada a interiorizar, mais do que uma vontade, uma certeza: “Sempre acreditei que voltaria a Macau”, conforme as palavras deixadas na abertura do livro “Floriram por engano as rosas bravas”.
Dora Gago voltou em 2011, como professora de português na Universidade de Macau, a
qual integra, neste momento, o maior departamento de Português do mundo, com mais de trinta professores a leccionarem a nossa língua. Por lá permaneceu uma década, o território já sob administração da China, e talvez ainda lá estivesse, não fora uma pandemia mostrar, em simultâneo, o lado negro da doença e de um regime político de partido único como é o chinês. Sobre esta permanência estendida no tempo, falou a escritora de múltiplas experiências que não se resumiram a Macau, abraçando os vizinhos Laos, Tailândia, Malásia, Vietname e outras regiões da própria China. Foi tempo de mostrar uma sociedade marcadamente patriarcal e a predominância das personagens femininas na sua escrita, os nove tons do cantonês e o “risco de insultar as pessoas sem querer”, a violência de um tufão e a loucura do jogo nos Casinos, o impacto na sociedade da política do filho único e a grande afluência às bibliotecas de Macau. Também de Saramago, Lídia Jorge ou António Lobo Antunes e as suas obras traduzidos para chinês, a quase veneração de Maria Ondina Braga e Camilo Pessanha, sobre os quais caiu o pano de uma sessão feita de “palavras coladas à alma”, a conversa como sementes plantadas no coração dos presentes. Sementes das quais certamente florirão, em beleza e harmonia, todas as rosas bravas que a imaginação possa conter.
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