EXPOSIÇÃO: “Surrealismo: Um Salto no Vazio”
Fundação Cupertino de Miranda
Curadoria | Marlene Oliveira, Perfecto Cuadrado
Sociedade Nacional de Belas Artes
30 Jan > 08 Mar 2025
“Pedrada no charco” do panorama artístico em França e que rapidamente alastrou ao resto do mundo, o Primeiro Manifesto do Surrealismo, por André Breton, cumpre agora 100 anos. Muito mais poeta do que médico, Breton personifica aquele que deve ser considerado o maior movimento artístico do século XX, o qual ajudou a fundar e a dar vida. No seu manifesto, o surrealismo é definido como um “automatismo psíquico puro” que permite expressar a realidade dos próprios pensamentos, sem censura, seja por meio da escrita, do desenho ou de qualquer outro meio. Espera-se que o labor criativo não envolva a consciência ou a vontade própria, cada obra como fruto de um estado de desapego, entre o sono e a vigília. Ao longo dos últimos 100 anos, o Surrealismo influenciou profundamente as artes visuais, a literatura, o cinema e até a filosofia, desafiando as convenções e explorando o inconsciente, o onírico e o absurdo. É o centenário da obra bretoniana que “Surrealismo: Um Salto no Vazio” visa assinalar, confrontando-nos com uma vanguarda artística que transcendeu a arte, ao lançar mão do humor, da contra-lógica e do non-sente para libertar o homem de uma existência cada vez mais sujeita ao utilitarismo das sociedades burguesas.
A assinalar a efeméride, a Fundação Cupertino de Miranda apresenta-se na Sociedade Nacional de Belas Artes com uma mostra singular, abrindo ao visitante a possibilidade de ver ou rever um alargado conjunto de obras emblemáticas que retratam o espírito subversivo e a liberdade criativa definidores deste movimento artístico. “Surrealismo: Um Salto no Vazio” reúne uma vasta seleção de obras de artistas e autores portugueses e estrangeiros, cujas criações estão intimamente ligadas ao movimento, desde os seus primórdios até à contemporaneidade. Em França, como em Espanha, na Bélgica ou nos Estados Unidos, Salvador Dalí , Marc Chagall , René Magritte , Max Ernst , Joan Miró , Dora Maar ou Man Ray, foram alguns dos pintores e escultores que aderiram ao movimento de forma mais ou menos duradoura. Entre nós avultam nomes como os de Cruzeiro Seixas, Mário Cesariny, Mário de Sá-Carneiro, António Maria Lisboa, António Pedro ou Mário Henrique-Leiria, para citar só alguns. Todos eles foram capazes de superar a contradição entre objectividade e subjectividade, tentando consagrar uma poética da alucinação, de ampliação da consciência, “uma espécie de realidade absoluta, de sobre-realidade [surrealité]”.
Numa pintura de Cândido Costa Pinto, numa fotografia de Fernando Lemos, numa escultura de Mário Cesariny ou num desenho de António Areal, aquilo que o visitante pode apreciar são obras que, para além do seu carácter estético, têm o propósito subversivo de abolir a realidade que uma sociedade vacilante impôs como a única verdadeira. Mais do que a criação de uma arte nova, é da criação de um homem novo que nos fala o surrealismo, projectando-se em forma e cor, gesto e poesia. Além de uma quantidade apreciável de obras de extraordinária qualidade, das mais representativas do movimento em Portugal e não só, pode o visitante deliciar-se com algumas secções que particularizam momentos ou figuras ligadas ao surrealismo. A homenagem a Sérgio Lima, um dos grandes representantes do movimento surrealista brasileiro, é uma delas. Outra tem a ver com o catálogo da primeira exposição dos surrealistas, em 1949, e no qual se insere um vasto conjunto de poemas. E há, ainda, uma extraordinária mostra de publicações do universo surrealista, casos da pioneira La Révolution Surrealiste e da sua sucessora, Minotaure, fundada por Albert Skira, editada por André Breton e com obras originais desenhadas por artistas de prestígio como Pablo Picasso.
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