EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “O Pejão… 20 Anos Depois”,
de Pereira Lopes
iNstantes- Proposta Fotográfica #93
Centro de Reabilitação do Norte
27 Nov 2024 > 08 Jan 2025
Pelo olhar de Pereira Lopes, avintense de gema e um apaixonado pela fotografia, regresso ao Pejão. Um regresso “sem sair de casa”, posto que “O Pejão… 20 Anos Depois”, exposição que tive oportunidade de ver em Outubro de 2018, na Casa da Cultura de Avintes, mostra-se, até 8 de Janeiro do próximo ano, no Centro de Reabilitação do Norte. Este é o motivo que me leva a escrever de novo sobre ela, salientando a importância de trazer a cultura para um espaço cuja essência reside na reabilitação de pessoas com doença, mediante a partilha de imagens que, para além da sua qualidade e beleza intrínsecas, contam histórias que a todos enriquecem. Durante a inauguração da exposição, Sofia Viamonte, Directora Clínica do Centro de Reabilitação do Norte, fez questão de salientar que “quem trabalha em saúde, trabalha não só para o bem-estar físico mas também psico-emocional, e o acesso à cultura a todos beneficia”. E acrescentou: “[Esta exposição], ao fazer parte de um programa de reabilitação que tem como principal objectivo a reintegração a todos os níveis da nossa dimensão humana, é uma mais-valia muito grande”.
São vinte os retratos que podem ser apreciados numa das concorridas salas de espera do Centro, não apenas daqueles que trabalharam no fundo da mina, mas também de outros que a ela estão indelevelmente ligados, que são fruto da sua estrutura sociocultural e para quem, hoje, o legado mineiro tem um valor, sobretudo, enquanto memória colectiva. Fruto de um projecto pessoal de recuperação de estórias e memórias, o trabalho de Pereira Lopes abraça a “família do Pejão”, trazendo à superfície o desencontro de sentimentos temperados pela dureza da vida e do trabalho, com jornadas de oito horas e meia por dia, todos os dias, todos os meses e todos os anos, no inferno a mais de 400 metros de profundidade, os pulmões carregados de sílica, a morte sempre à espreita. Este é o resultado de dez meses de preparação, aos quais se juntaram outros tantos de trabalho de campo, daí resultando “O Pejão… 20 Anos Depois”, conjunto de imagens a preto e branco, acompanhadas da edição do livro “... 20 Anos Depois”, e que estiveram na origem duma exposição inaugural nas instalações do Centro de Interpretação da Cultura Local, em Castelo de Paiva, em Outubro de 2015, entrando depois em itinerância e chegando agora a Francelos.
“No poço Maria Luisa / Morreram doze mineiros, olha / Olha a minha vida, olha / Olha como venho eu. // Cinco eram picadores / Cinco eram entivadores / E dois eram marteleiros, olha / Olha a minha vida, olha / Olha como venho eu (...)”. Com as fotografias do Bloca, do Chasco, do Político, da Deolinda do Aido, da Emilia da Gusta, do Casoto, do Manel 29 ou do Pissalho em pano de fundo, as gargantas afinadas de oito elementos do Coro de Mineiros do Pejão, todos eles ex-mineiros, foram portadoras da emoção e riqueza do Cante, precisamente no dia em que se celebra uma década da sua inscrição pela UNESCO, em Paris, na Lista Representativa do Património Cultural Imaterial da Humanidade. Uma coincidência feliz, feita com gente simples, numa cerimónia simples mas plena de significado, combinação perfeita da cultura com a saúde, da arte com a humanização. Falta acrescentar que “O Pejão… 20 Anos Depois” resulta de uma parceria com o iNstantes – Associação Cultural, com sede em Avintes, abrindo um ciclo de exposições que, em 2025, terá o seu ponto alto com a vinda para o Centro de Reabilitação do Norte de um dos polos do iNstantes – Festival Internacional de Fotografia de Avintes, que irá decorrer de 02 a 31 de Maio.
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