Páginas

domingo, 29 de dezembro de 2024

EXPOSIÇÃO: "25 de Abril SEMPRE!"



EXPOSIÇÃO: “25 de Abril SEMPRE!”
Curadoria | Rita Rato
Museu do Aljube Resistência e Liberdade
04 Abr 2024 > 31 Jan 2025


Portugal viveu, ao longo de 48 anos, a mais longa ditadura da Europa. Entre 1926 e 1974, mais de 36.000 presos políticos, entre os quais duas mil mulheres, foram barbaramente violentados pela tortura física e psicológica, e pela ameaça sobre as suas famílias, amigos e camaradas. Durante esse período, a PIDE e as polícias do regime assassinaram perto de duas centenas de pessoas, alguns, logo ali onde publicamente resistiam por pão, trabalho e paz. E naquele dia 25 de Abril de 1974, dia inicial, inteiro e limpo, o povo saiu à rua para apoiar os capitães que quiseram por fim à guerra colonial, e um golpe que se transformava em movimento militar desaguaria numa revolução autêntica, construída nos meses seguintes com a participação desse mesmo povo. Brigou-se em casa para ir ao sindicato e à junta. Gritou-se à vizinha que era fascista. Soube dizer-se salário igual e creches e cantinas. Muitos vieram para as ruas de vermelho, enchendo-as de cravos. Aprovada a 4 de Abril de 1976, a nova Constituição viria a consagrar em letra de lei conquistas concretas que resultaram da participação, da criatividade e das vivências revolucionárias do povo.

No momento em que continuamos a celebrar os 50 anos do 25 de Abril e, com ele, o derrube da ditadura fascista, “25 de Abril SEMPRE!” convida a refletir sobre as conquistas que a liberdade e a democracia nos trouxeram. Num antigo parlatório de uma das prisões privativas da PIDE, é de resistências que a exposição nos fala, mas também de preservação, construção e partilha de memória democrática. Nela se destacam alguns protestos realizados ao longo dos últimos 50 anos, quer pela sua relevância no período em que ocorreram, quer pela existência ou não de materiais documentais disponíveis. Entre manifestações nacionais e greves gerais, protestos juvenis e movimentos em defesa dos direitos das mulheres, combate ao assédio laboral e sexual e luta por um melhor Serviço Nacional de Saúde, marchas LGBTI+ e campanhas antirracismo, preocupações com a conservação da natureza e do meio ambiente e acções em defesa do direito à habitação, são muitos e variados os momentos em que os protestos e dinâmicas de luta se afirmam como expressão da vontade popular. 

25 de Abril SEMPRE!” mostra como os movimentos de protesto e resistência em Portugal são contínuos, heterogéneos, ocupando espaços e agendas muito diversas, e que nalguns momentos particulares se cruzam. Muitos desses movimentos têm nesta exposição novas expressões, nomeadamente no painel “toponímico” onde encontramos a Rua Gilberta Salce, a Avenida Bruno Candé ou a Praça José Geraldo e António Casquinha. Percorrendo o olhar pela sala, encontramos lado a lado slogans antigos e de agora, de “o povo está com o MFA” a “direitos para os trabalhadores migrantes | liberdade”. Há afirmação - “meu corpo minhas regras” - e há esperança - “sera libre Palestina y Puerto Rico”. Num canto, “25 de Abril sempre”, no outro “fascismo nunca mais”. E uma nova afirmação: “Não se implora por direitos, luta-se por eles”. Meio século sobre a conquista da liberdade e da democracia, “25 de Abril SEMPRE!” não é só memória. É acção, inquietação e questionamento: Estamos a usufruir e a defender os direitos conquistados? Surgiram novos? Perderam-se outros? O que está por alcançar?

Sem comentários:

Enviar um comentário