CONCERTO: “Dual Core”
Orquestra de Jazz de Espinho, Eduardo Cardinho, Miguel Moreira
Direcção Musical | Paulo Perfeito
Auditório de Espinho – Academia
15 Dez 2024 | dom | 18:00
Quando se cumprem quinze anos sobre a primeira apresentação pública da Orquestra de Jazz de Espinho, então sob a designação de Orquestra Académica de Jazz da EPME, importa dizer que é passo a passo que se faz o caminho. Impulsionado por Paulo Perfeito, que assumiu desde logo a direcção artística da Orquestra (vindo a ser mais tarde coadjuvado por Daniel Dias e, recentemente, por Eduardo Cardinho), o projecto não mais parou de crescer, expandindo-se para além da sua vocação didáctica, ao encontro de concertos temáticos, repertórios de autor e espectáculos multimédia e multidisciplinares para os mais diversos públicos e faixas etárias. Nesta sequência de passos certos e seguros que sustentam a extraordinária evolução que a Orquestra de Jazz de Espinho vem conhecendo ao longo dos anos, dá-se agora um novo passo com “Dual Core”, o seu primeiro trabalho discográfico que, como se de um ritual de passagem se tratasse, pretende constituir-se em símbolo de afirmação na carreira de um dos colectivos de referência do jazz nacional.
No concerto de apresentação ao público deste trabalho inaugural, a Orquestra de Jazz de Espinho convidou para o palco, de uma assentada, o vibrafonista Eduardo Cardinho e o guitarrista Miguel Moreira. Já o tinha feito nos idos de 2019, num concerto intitulado “Encruzilhadas” e cujo programa exibiu vários pontos de contacto com este apresentado ao final da tarde de domingo. E se nessa altura as “encruzilhadas” deixavam subentender os caminhos cruzados dos solistas com os da Orquestra – Eduardo Cardinho formou-se nesta Escola e integra actualmente o seu corpo docente, enquanto Miguel Moreira concluiu aqui, em 2002, o curso de Percussão Clássica –, “Dual Core” vem mostrar estarmos perante um projecto maduramente pensado, no qual se evidencia um trabalho de revisão e actualização dos temas que o compõem e para o qual Cardinho e Moreira contribuíram como exímios executantes, mas sobretudo como inspirados compositores, a sua energia, criatividade e ousadia vertidas em músicas que expandem para lá dos limites habituais a paleta de possibilidades da Orquestra de Jazz de Espinho.
Com um programa construído em torno de composições de Eduardo Cardinho (“Bipolar Hallucination”, “In Search of Light” e “Lua”) e de Miguel Moreira (“Coentros”, “Suite do Relógio” e “Câmbio”), “Dual Core” aposta no cruzamento das vanguardas com a tradição, do convencional com a originalidade. Viagem por universos sonoros de enorme variedade e riqueza, o concerto destacou o talento e arrojo de dois compositores, assim como a qualidade e versatilidade da Orquestra de Jazz de Espinho. Entre as frases musicais harmoniosas e os momentos abertos à improvisação, o que de melhor há a reter é o entendimento perfeito entre o vibrafone e a guitarra, expresso numa relação de complementaridade, de cumplicidade única, como se cada instrumento vivesse de e para o outro. Junte-se a isto a qualidade do saxofonista Rafael Gomes, dos trompetistas João Tavares e João Dias ou do pianista José Diogo Martins, expressa em solos de engenho e virtuosismo feitos, e facilmente se perceberá o quão extraordinário foi o momento, o público suspenso da complexidade melódica dos temas, a música a oferecer-se em sonho e liberdade.
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