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sexta-feira, 18 de outubro de 2024

CONCERTOS & CONVERSAS: OVAR EXPANDE 2024 (I)



CONCERTOS & CONVERSAS: Ovar Expande 2024
Com Bernardo Freire, Joaquim Margarido, Laura Rui, Mazgani, Miguel Araújo, Tiago Alves
Escola de Artes e Ofícios
16 e 17 Out 2024 | qua e qui | 18:30, 21:30 e 22:30


Nascido da vontade de expandir horizontes à nova música portuguesa e de, num enquadramento inovador, trazê-la para mais perto do público, o OVAR EXPANDE está de regresso para a sua quinta edição. Concertos, conversas, oficinas e masterclasses, são, ao longo de quatro dias, vectores de entretenimento, criatividade, inovação e conhecimento, evocando “a arte e o ofício” de fazer e conhecer a música. Numa edição que explora a ligação da música e da palavra à sua dimensão cinematográfica, o certame arrancou na noite da passada quarta-feira com uma conversa moderada por Tiago Alves e que teve como convidado o músico Miguel Araújo. O visionamento de um punhado de videoclips abriu espaço a um saboroso momento de partilha de ideias, opiniões e algumas curiosidades, dando a ver uma faceta menos conhecida de Miguel Araújo, a de (excelente) conversador, disfarçando muito bem a sua timidez (assumida) e aceitando abrir o jogo sobre o seu processo criativo, a ligação entre a música e as imagens dos seus videoclips, as grandes referências musicais (e não só), o desconforto de estar em palco sem uma guitarra ou os medos de quem não sabe dançar.

O segundo dia do OVAR EXPANDE voltou a explorar o cruzamento do cinema com a música, através de uma conversa que reuniu o cantor Mazgani e o crítico de cinema Bernardo Freire. Centrado no filme documental de Rui Pedro Tendinha, “Estrada para Mazgani”, o momento teve moderação de Joaquim Margarido e permitiu desvendar a “estrada” a que o título se refere. De uma humildade tocante, o músico partilhou as histórias que se abrigam em duas décadas de carreira, o olhar apontado em frente. Bernardo Freire ajudou a descodificar o lado “road movie” que o filme de Tendinha ostenta e Mazgani, entre o compromisso com os seus fãs e a aventura de cantar em português, concluiu que “queria era ser Wagner, ser Beethoven, escrever a Sagração da Primavera”. Ainda que sem o estatuto de génio, é um artista carismático, talentoso, com uma forte presença em palco, contagiante de energia e intencionalidade. Foi isso que o público presente na bonita Sala Expande da Escola de Artes e Ofícios pode constatar, no concerto que fechou a noite, no qual o artista revisitou temas como “River of Stone” e “Glowing Horses” ou, recuando um pouco mais, “The Poet’s Death” ou “The Traveler”. A grande novidade esteve, porém, em “A Avenida”, que abriu o concerto, mas também em “Frente Leste” ou “Romanceiro”, a “Chama” ou o fabuloso “Cidade de Cinema”, dando a escutar algumas das pérolas do seu último trabalho discográfico.

Entre a conversa e o momento musical que fechou a noite em verdadeira apoteose, o OVAR EXPANDE abriu a série de oito concertos, como é da tradição, com a chamada “prata da casa”. A dar os primeiros passos, mas já com um conjunto de prestações que abrem em promessa e certeza uma carreira que se adivinha recheada de momentos felizes, Laura Rui chamou à Sala Galeria da Escola de Artes e Ofícios um respeitoso número de aficionados, que a acompanharam entusiasticamente ao longo de uma hora de belíssima música. Com Sofia Queirós no contrabaixo e Sónia Sobral no acordeão, Laura Rui fez do alinhamento deste seu concerto uma sequência de poemas cantados, dos quais emergiu a vontade e a força do ser mulher. Em composições inspiradas, com uma voz feita sussurro breve ou intenso grito, a artista de Ovar levou-nos por caminhos de firmeza e coragem, ao encontro das mulheres de Maria Teresa Horta e de Sophia de Mello Breyner, de Fausto Bordalo Dias, José Afonso e António Gedeão. No breve espaço de uma hora, Laura Rui pôs em palco todo o seu querer, ao mesmo tempo mostrando que conhece bem a estrada que decidiu percorrer. O reconhecimento do público fez-se sentir em ovações prolongadas e sentidas. “Há mulheres que são maré em noites de tardes… e calma”.

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