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sábado, 21 de setembro de 2024

CERTAME: Festival Literário de Ovar (III)



CERTAME: Festival Literário de Ovar 2024
Carlos Nuno Granja, Eduardo Sá, Elisa Costa Pinto, Francisco Duarte Mangas, Joaquim Margarido, Luís Filipe Sarmento, Marta Hugon, Pedro Reisinho, Rui David, Sara Ludovico, Sílvia Sacadura
Biblioteca Municipal de Ovar | Escola de Artes e Ofícios
20 Set 2024 | sex | 18:00 e 21:00


Diversidade, intensidade e muita qualidade marcaram o programa do terceiro dia do Festival Literário de Ovar, “o irmão do meio”, como alguém observou. Apresentações de livros, uma conversa que juntou três editores e se debruçou sobre os novos desafios que se colocam à edição, uma mesa temática e ainda um concerto, foram momentos de conhecimento e partilha fortemente intensos e emotivos, que não deixaram indiferente um público que acorreu ao Festival em bom número. Começando pelo período da tarde, Eduardo Sá fez uma curta viagem desde Aveiro para apresentar “O Medo é um Bicho Mau”, numa edição da Livros Horizonte. Numa linguagem simples, fortemente empática, o autor colocou a tónica na importância de sabermos lidar com os nossos medos, independentemente da idade de cada um. “Todas as crianças e todas as pessoas crescidas têm medos. O medo é só uma questão de sabedoria. Quanto mais velhos, mais medos temos. Não por sermos mais frágeis, mas por sermos mais sábios”, disse. A abordagem à edição e aos seus novos desafios contou com a participação de Sílvia Sacadura, Pedro Reisinho e Sara Ludovico, numa conversa moderada por Carlos Nuno Granja. Da dificuldade em conquistar leitores no segmento dos 8 aos 16 anos, aos condicionamentos de ordem financeira que obrigam a descartar muitos e bons textos ou à recusa de qualquer tipo de censura, de tudo um pouco se falou nesta conversa onde, acima de tudo, se quis vincar a ideia de que importa, acima de tudo, “que os leitores redescubram e descubram o prazer de ler.”

Deixando para trás a Biblioteca, percorremos a margem direita do Rio Cáster numa breve caminhada até nos depararmos com o bonito e bem cuidado espaço da Escola de Artes e Ofícios, onde tiveram lugar as três iniciativas que preencheram o serão. Elisa Costa Pinto chamou a si a tarefa de apresentar “Ácido”, o mais recente livro de poemas de Luís Filipe Sarmento, chamando a atenção para as duas vertentes - prosa e poesia - que habitam a criação literária do escritor. Sobre o seu livro, Sarmento afirmou tratar-se de “uma homenagem a essa trip que a vida me proporcionou, que é a grande viagem de quem nasce numa ditadura, de quem é educado para uma guerra e que à beira de vestir o camuflado há uma revolução que me liberta.” A noite encerrou com “Censurados: A Música que Desafiou a Ditadura”, um espectáculo poético e musical que Rui David, autor e intérprete, definiu como “um exercício de memória e de trazer as vozes daqueles que se interpuseram entre nós e 48 anos de ditadura”. Às músicas de autores bem conhecidos como Adriano Correia de Oliveira e José Afonso, José Mário Branco, Sérgio Godinho ou Chico Buarque, juntaram-se a poesia de Sophia de Mello Breyner, José Carlos Ary dos Santos, António Gedeão, José Saramago, Egito Gonçalves e outros, juntamente com registos em vídeo que dão testemunho dos homens e mulheres que sofreram no corpo e na alma a violência, o medo, a repressão e a tortura nas cadeias do Estado Novo.

“Descarto de mim a parte menos positiva do crítico e a parte mais positiva do divulgador, que às vezes são uma e a mesma coisa. É como leitor que estou aqui e como leitor que eu quero inquietar os meus interlocutores nesta mesa, sabendo que as minhas inquietações são as inquietações deles, porque são leitores como eu.” Foi com estas palavras que Joaquim Margarido começou por saudar o público presente e os dois convidados desta terceira mesa temática do FLO 10, como se de uma carta de intenções se tratasse. Dos livros que se lêem à forma como se escrevem, da lente sobre o mundo ou de um espelho interior que um livro pode ser para quem o lê ou escreve, ou ainda da importância de ler Camões nos dias de hoje ou daquilo que o 25 de Abril acrescentou à liberdade da escrita, de tudo um pouco se falou numa mesa com tanto de informalidade como de generosidade. “Não quero cair no lugar que nos diz que ficou para trás aquilo que era bom e que para a frente já não é nada. E eu quero acreditar, até bater as colheres, que há coisas a esperar e, sobretudo, que há coisas a fazer e que cada um à nossa escala pode fazer a diferença na vida dos outras”, partilhou Marta Hugon, acrescentando que “cada um de nós tem que ter muito presente que tem que se fazer. Pensar, dizer, escrever, fazer, fazer, fazer. E escrever é uma forma de fazer.” Fazendo a ligação com o concerto que viria a encerrar a noite, este foi um dos muitos momentos excelentes de mais uma mesa de grande qualidade neste Festival Literário de Ovar.

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