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sexta-feira, 20 de setembro de 2024

CERTAME: Festival Literário de Ovar (II)



CERTAME: Festival Literário de Ovar 2024
Ana Maria Ferreira, Ana Moreira, Elisabete Pinho, Jorge Névoa, José Ferreira, Josefa de Maltezinho, Leocádia Regalo, Maria José Quintela, Paulo Félix
Escola de Artes e Ofícios
19 Set 2024 | qui | 21:00

Em velocidade de cruzeiro, o Festival Literário de Ovar fez da Escola de Artes e Ofícios a sua base para duas noites de partilha e conhecimento à roda dos livros e da leitura. Numa edição - a décima - que evoca os 500 anos do nascimento de Luís de Camões, mas também os 50 anos do 25 de Abril, a liberdade foi o assunto que dominou a mesa temática, com o mote a surgir nas palavras de Bernardo Soares / Fernando Pessoa: “Não o prazer, não a glória, não o poder: a liberdade, unicamente a liberdade.” E foi precisamente por aqui que a moderadora Ana Maria Ferreira começou, acrescentando o natural complemento à frase escolhida para tema de conversa e contextualizando-a no registo do “Livro do Desassossego”: “Passar dos fantasmas da fé para os espectros da razão é somente ser mudado de cela. A arte, se nos liberta dos manipansos assentes e obsoletos, também nos liberta das ideias generosas e das preocupações sociais — manipansos também.” Um apontamento pleno de oportunidade que nos vem dizer que “o conceito de liberdade que temos na frase inicial tem muito que se lhe diga”. Estava dado o mote para a conversa.


Numa mesa que juntou três escritoras, três poetisas, três mulheres, o tema da liberdade conjugou-se com as ideias de solidão, espanto e poder, de paisagens interiores, da urgência da escrita. Enfermeira de profissão, “mas essencialmente leitora”, Maria José Quintela partilhou um texto que escreveu especificamente para este momento e que acabou por dominar a sessão. Nas suas palavras, podemos escutar, entre outras inquietações próprias de quem se pensa a si e ao espaço em volta, o seguinte: “A liberdade é um rumor de asas no interior de quem se arrisca a pensar, sem medo de perder o chão ou se perder de si. Olhar a partir de dentro clarifica a nossa posição no Universo e nada tão desastroso como perder a noção de espaço que ocupamos: Um pequenino quintal, cercado de intrigas e representações no limite da ocupação”. Pegando neste assunto, Leocádia Regalo afirmou que nos “interessamos, às vezes, mais com a opinião dos outros do que com as nossas vivências, com os nossos sonhos, com os riscos que temos de correr”, acrescentando que “não é artista aquele que pensa que só a arte deve agradar ou deve vender.” Josefa de Maltezinho observou que “estamos subjugados a determinados pontos que, quer queiramos quer não, iremos seguir” e que “quem quer chegar aos leitores, encontra na liberdade uma certa prisão.”

Ana Maria Ferreira fechou a mesa com a leitura de um poema de Maria José Quintela, do seu livro “Morrer e Depois”, como “homenagem às três convidadas”, e que termina assim: “(…) desbridam o firmamento, / avaliam a escala das formas luminosas, / escalam as marés e os montes lunares, / e, como cálidos incensos, / ardem a ansiedade nos meteoritos / e alargam a dança de roda a cada um que passa. / afinal, já todos foram todos.” Um belíssimo momento, que abriu espaço a outro momento não menos belíssimo, trazendo na voz e na música de Jorge Névoa, acompanhado ao piano por Ana Moreira, a poesia de Sophia de Mello Breyner, Eugénio de Andrade, Miguel Torga, Natália Correia, Alfred Tennyson e António Aleixo. Feitas de sensibilidade e emoção, as baladas deram a ouvir, de forma incomum, poemas tão queridos, vincando a sua riqueza e versatilidade e tornando-os mais queridos ainda. Particularmente emotivo, o momento de declamação por José Ferreira de dois poemas de Manuel Ramos Costa, poeta ovarense recentemente desaparecido, calou fundo no coração de todos os presentes. Uma última nota para a apresentação do livro “O Pêndulo - Nenhum Segredo é Eterno”, de Elisabete Pinho, por Paulo Felix, que abriu o segundo dia do FLO e que, nas palavras da escritora, é “essencialmente um drama familiar”, envolto no ritmo do suspense e do thriller, “para dar mais vontade ao leitor de não perder a história.” O FLO10 regressa mais logo, pelas 18h00, estendendo-se pela noite fora com uma mão cheia de propostas imperdíveis.

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