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quarta-feira, 19 de junho de 2024

CONCERTO: João Paulo Esteves da Silva Trio



CONCERTO: João Paulo Esteves da Silva Trio
Jazz no Reservatório 2024
Reservatório de Água da Pasteleira
16 Jun 2024 | dom | 18:00


Chegou ao fim a segunda edição do “Jazz no Reservatório”, série de quatro concertos com palco montado no bonito e bem cuidado espaço da cobertura do Reservatório de Água da Pasteleira. Programado por Hugo Carvalhais, o certame encerrou com o Trio de João Paulo Esteves da Silva, proporcionando ao muito público presente uma hora de jazz e improvisação livre com o toque mágico de um dos nossos maiores pianistas e compositores. Com um vasto percurso que passou pelo acompanhamento de artistas como Fausto e Sérgio Godinho, entre tantos outros, muito daquilo que reconhecemos historicamente como sonoridade do jazz português é fruto da criatividade de João Paulo Esteves da Silva, firmada em nome próprio em álbuns como “Sem Serra”, “Memórias de Quem”, “White Works” ou o muito recente “Farnel”, para além das colaborações com Maria Ana Bobone, Carlos Bica, Filipe Raposo, Mário Laginha, Maria João, Vitorino Salomé ou Cristina Branco.

A prática da “composição instantânea” é aquilo que melhor define a música do João Paulo Esteves da Silva Trio. Constituído por João Paulo Esteves da Silva (piano), Mário Franco (contrabaixo) e Samuel Rohrer (bateria), o agrupamento tem na improvisação a pedra de toque da sua música, entregando-se a ela em permanente movimento, num fluxo contínuo, como o correr de um rio que, ora é um fio de água, ora caudalosa torrente, dispensando intenções banais para as suas peças e composições. Firmemente enraizada nas convenções jazzísticas, a música do trio bebe na tradição popular e no classicismo uma parte significativa da sua inspiração, valendo-se de um entendimento intuitivo, da fluidez e transparência da comunicação entre os músicos, das suas ações e reacções, das sequências solísticas que prolongam a fluidez do som e a cultura e nobreza musical. Aqui, a profundidade emotiva assume, sempre, maior importância que o virtuosismo.

Aquilo a que pudemos assistir na tarde do passado domingo foi mágico. Adequando a música ao espaço, tirando o melhor partido dos sons da cidade, fazendo deles causa e efeito das suas “composições instantâneas”, o João Paulo Esteves da Silva Trio mostrou o quanto de belo pode existir naquilo a que se convencionou chamarmos “ruído”. Conduzindo o trio numa base de grande harmonia, João Paulo Esteves da Silva brindou os presentes com a versatilidade e organicidade da sua música, onde couberam os gritos das gaivotas, o estralejar dos foguetes ou as correrias das crianças atrás de uma bola. Ver a música a desenhar-se de forma espontânea e livre e sentir a sua pureza num espaço tão único foi o privilégio que assistiu a todos quantos marcaram presença no concerto. Ficam os momentos de verdadeiro deleite graças à qualidade e virtuosismo dos três executantes e fica essa nota muito pessoal de dar por mim a acompanhar um som grave, que aos poucos se desvanece, e que não é mais do que o barulho dos motores de um avião que se afasta rumo a Sul.

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