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segunda-feira, 6 de maio de 2024

EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: "Ponto de Chegada"



EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Ponto de Chegada”,
de André Rodrigues
Mostra de Fotografia & Autores
Clube Fenianos Portuenses
23 Mar > 11 Mai 2024


Odemira, o maior concelho do país em território, lida há anos com o aumento do número de residentes estrangeiros. Em 2020, representavam já quase 40% da população. Vivem em casas sobrelotadas e trabalham horas a fio, no calor das estufas para receberem um salário de miséria, só “suavizado” graças ao enorme volume de horas extraordinárias que se obrigam a fazer. A pandemia de COVID-19 veio escancarar a ferida e foi com estupefacção que o País tomou conhecimento da falta de condições em que viviam milhares de trabalhadores imigrantes no sudoeste alentejano, apesar de a situação não ser nova para quem vive na região. Casas, armazéns e anexos estavam repletos de gente, a viver sem as mínimas condições de higiene, sobretudo devido à falta de habitação condigna. O Governo interveio, criou legislação para acelerar a legalização das habitações temporárias instaladas pelos produtores de frutos vermelhos nas explorações e para a criação de alojamento temporário e amovível que pudesse dar resposta às necessidades, mas o tempo vai passando e, pelo menos em matéria de habitação, o problema persiste.

É das profundas transformações territoriais, demográficas e culturais que o litoral alentejano tem sofrido nos últimos anos que nos fala “Ponto de Chegada”, reportagem fotográfica de André Rodrigues, patente até 11 de Maio no Clube dos Fenianos Portuenses, ao abrigo da extraordinária Mostra de Fotografia & Autores. As imagens contam a história de planícies de seara a perder de vista, praias e refúgios naturais impolutos a serem engolidos por mares de plástico, em pleno Parque Natural do Sudoeste Alentejano. Ao êxodo da população nativa, em busca de melhores condições de vida e de emprego em zonas mais desenvolvidas do pais ou no estrangeiro, soma-se a modificação da estrutura de gestão fundiária. Há pouco mais de uma década, os colossos multinacionais de frutos vermelhos descobriram uma soalheira Califórnia europeia, mas com solos arenosos e água abundante, de baixo custo e com poucos entraves a modelos de produção intensiva. Salários baixos, intensa carga física, bem como um enraizado desprestígio social associado ao trabalho agrícola, contribuem cumulativamente para o afastamento da já exígua potencial mão de obra local, criando um fluxo torrencial de trabalhadores sazonais à região.

Estas vagas migratórias laborais, inicialmente, dos países de Leste, mais recentemente, provenientes da Ásia, estão a alterar profundamente a demografia do litoral alentejano. Sem surpresa, à velocidade da chegada destes trabalhadores, sucedeu-se a expansão desenfreada da precariedade e miséria. Mas também uma explosão de novas mundividências, tradições e celebrações. Quem são, afinal, estas pessoas que atravessam o mundo dispostas a fazer o trabalho que os portugueses recusam, ou para o qual não existe mão de obra suficiente? Até quando ficarão? Numa inversão radical do fenómeno da década de 60, o território alentejano converteu-se em plataforma de acolhimento. Qual será o impacto que este fenómeno terá culturalmente na região? O aparente paradoxo desta dicotomia sócio-cultural e económica torna-a única pela sua dimensão e a realidade da chegada de milhares de jovens estrangeiros todos os anos à região mais envelhecida do país merece uma profunda reflexão. “Ponto de Chegada” mergulha no problema e convida a reflectir na busca de soluções.

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