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domingo, 28 de abril de 2024

EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “365 Dias que Mudaram as Nossas Vidas”



EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “365 Dias que Mudaram as Nossas Vidas”,
de Clara Azevedo
MFA - Mostra de Fotografia & Autores
Clube Fenianos Portuenses
23 Mar > 11 Mai 2024


“Quando nos despedimos de 2019 com abraços e sorrisos, e desejámos Feliz Ano Novo, nada faria supor que esse seria o ano mais improvável das nossas vidas. Estávamos a poucos dias da Primavera, quando o país entrou em modo “pausa”, consequência de um vírus que parecia tão distante.” As palavras são de Clara Azevedo, mas poderiam ser de qualquer um de nós. Perante a drástica alteração do contexto planetário, de um mundo tomado de assalto por um vírus capaz de, num repente, enterrar todos os planos do quotidiano, cada um de nós sentiu a necessidade de adoptar uma estratégia de defesa que nos ajudasse a sobreviver à crise pandémica, à omnipresença da máscara, ao distanciamento social, à frieza dos números, à ausência do toque como arquétipo do afecto. A fotógrafa conta que a sua estratégia passou, logo nos primeiros dias de confinamento, por fazer um diário que seria a sua ligação à nova realidade, partilhada no Instagram. “A terapia para os dias da pandemia era a fotografia, memória e documento.”

É essa “memória e documento” que regressa sob a forma de imagens às quais Clara Azevedo resolveu chamar “365 Dias que Mudaram as Nossas Vidas”. São imagens que espelham a incerteza de cada dia, na rua, em casa, no trabalho, quando tudo fechou, até mesmo o espaço aéreo. “Percorrer a Avenida da Liberdade, em Lisboa, sem ver um carro ou encontrar alguém, era quase impensável, mas real. A cidade estava adormecida, em silêncio absoluto. Ouvia o vento e os pássaros, que desconheciam esta paragem do tempo. Gestos simples eram ruído, cada disparo das minhas máquinas fotográficas era perturbador”, conta, ao mesmo tempo que pensa “como seria perfeito se as fotografias tivessem som… registassem o silêncio.” Em silêncio atravessamos o enorme salão dos Fenianos enquanto olhamos as imagens e tudo nos vem com a força de um sonho mau que queremos esquecer. Mas como esquecer os funerais feitos à pressa e sem gente, as pessoas sozinhas à janela ou nas varandas, um padre que celebra missa para uma igreja vazia, os “fatos de astronauta” dos profissionais de saúde, o rosto cerrado dos decisores nas suas reuniões com os peritos? Como esquecer?

Clara Azevedo passou pela primeira vez, a Páscoa sozinha. Fala das conversas virtuais a diluir a distância e o isolamento, do fato-de banho e da máscara como um novo “dress code” obrigatório nas idas à praia no Verão, das saudades ainda mais intensas dos abraços, de tocar, de estar perto da família e dos amigos, sem condicionamentos, por alturas do Natal. Entretanto, o tempo foi passando e o vírus acabou por desmobilizar após sucessivas vagas da pandemia. Alcançar a imunidade de grupo revelou-se fundamental para o “acalmar” da situação, algo que não teria acontecido se fossemos todos negacionistas e partidários do movimento anti-vacinas. Entretanto, Clara Azevedo pôs fim a um diário que guardou a memória dolorosa de doze meses de vida em suspenso. “As fotografias deste diário são o meu estado de alma, quer estivesse a fotografar o Primeiro-Ministro no seu dia-a-dia, ou a registar o que acontecia à minha volta”, diz. À pasta - “memória e documento” - deu o nome 365: “não [é] um código, mas sim um reminder de um tempo recente que mudou as nossas vidas… para sempre.” A MFA - Mostra de Fotografia & Autores recupera-a e apresenta-a no espaço dos Fenianos Portuenses. É obrigatório passar por lá.

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