Páginas

terça-feira, 6 de dezembro de 2022

CONCERTO: Sétima Legião



CONCERTO: Sétima Legião
Culturgest
01 Dez 2022 | qui | 21:00


Se sabia quem eram os Sétima Legião? Com alguma embaraço, teria de admitir que não. Não que o nome me fosse desconhecido ou que não reconhecesse em “Sete Mares” ou “Por Quem Não Esqueci” a marca do génio que faz deles dois autênticos hinos da música portuguesa. Mas porque não ousaria ir mais além num qualquer quiz e também porque o nome de Pedro Oliveira ou Ricardo Camacho não me diziam nada (e, se conheço e aprecio sobremaneira Rodrigo Leão, confesso que estaria longe de o associar à banda). Mas 40 anos são 40 anos e pareceu-me que este seria o momento para perceber o porquê de tanto entusiasmo, quase idolatria, em torno de um projecto que nunca foi chamativo para mim. Queria perceber como é que se conjugam as influências de grupos como os Joy Division ou Echo & The Bunnymen com a marca distintiva da música tradicional portuguesa. Sobretudo, queria perceber o quanto do seu trabalho estaria guardado no meu subconsciente, de tanto os ter escutado, as mais das vezes de forma puramente casual. A surpresa veio logo com “Noutro Lugar”, o tema de abertura do concerto, adensando-se à medida que as músicas se foram sucedendo. Afinal, o meu desconhecimento dos Sétima Legião era mais aparente do que real.

Não foi um concerto longo, mas os momentos vividos foram intensos e marcados pela emoção do reencontro, pela celebração de quatro décadas de vida e pela homenagem a Ricardo Camacho, teclista e produtor falecido em 2018. Súmula dos mais importantes momentos de uma carreira recheada de sucessos, o concerto teve no palco Pedro Oliveira (voz e guitarra), Rodrigo Leão (baixo e teclas), Nuno Cruz (bateria, percussão),  Gabriel Gomes (acordeão), Paulo Marinho (gaita de foles, flautas), Paulo Abelho (percussão, samplers) e Francisco Menezes (coros), sendo Ricardo Camacho substituído por João Eleutério, músico que faz parte da banda de Rodrigo Leão. A amizade e cumplicidade no seio do grupo - inesquecíveis os momentos em que Pedro Oliveira distribui o carinho de um afago à generalidade dos seus companheiros, pleito de gratidão por tantas e tão boas memórias - estendeu-se à plateia, criando-se um ambiente na sala de quase euforia, absolutamente único. Afinal, tinham passado cinco anos desde a última vez que os Sétima Legião tinham pisado um palco e os indefectíveis deram mostras de estarem ali em busca do tempo perdido.

Nem sinais perdidos, nem esperas em vão. “Além-Tejo” é sinónimo de força e energia, a flauta de Paulo Marinho e o acordeão de Gabriel Gomes a sublinharem frases musicais de grande beleza e significado neste abraço ao Cante. Com “Sete Mares” vem a mola que faz levantar da cadeira, “na volta da maré”, o público que esgota a sala da Culturgest por inteiro. Vejo-me então a cantar a plenos pulmões uma letra que não sabia que sabia, “fogo de outra sorte / sigo para o sul”. “Tango do Exílio” traz com ele o regresso a uma calma que “Tão Só” reforça, “o que foi feito está feito / e não volta a acontecer”. A verdade é que voltou - e da onda de euforia falo -, o inesquecível “Por Quem Não Esqueci” a fazer levantar de novo a sala, as vozes em uníssono “em nome de um sonho / em nome de ti”. Há uma gaita de foles que parece mágica e um bombo ou uns chocalhos que Paulo Abelho faz vibrar na frente do palco e, quando damos por ela, o concerto chega ao fim e parece que só agora tinha começado. No “encore” escutou-se “Porta do Sol” e o inevitável “Glória”, primeiro single da banda e onde escutávamos já algo de premonitório: “A glória será não esquecer”. Ponto final definitivo no concerto, “Sete Mares” voltou a mostrar a sua força, selando uma noite única e irrepetível. As portas abrem-se para a noite, há mil anos de memórias a contar.

Sem comentários:

Enviar um comentário