CINEMA: “Esquecido” / “Zabuti”
Realização | Daria Onyshchenko
Argumento | Claudia Lehmann, Daria Onyshchenko
Fotografia | Erol Zubcevic
Montagem | Simon Gutknecht
Interpretação | Marina Koshkina, Danilo Kamenskyi, Vasiliy Kukharskiy, Maria Kulikovska, Aleksey Gorbunov, Serhiy Smiyan, Alexander Zhukovin, Andrey Titov, Ljubljana Fenchak
Produção | Dmytro Kozhema, Claudia Lehmann, Igor Savychenko
Ucrânia, Suíça | 2019 | Drama, Romance, Guerra | 105 Minutos | Maiores de 14
Cinema Vida
31 Mar 2022 | qui | 18:15
Após o colapso da União Soviética em 1991, a Ucrânia firmou-se como uma nação independente. No Leste do país, contudo, especialmente nos enclaves de Donetsk e Luhansk, as minorias russas começaram a reinvindicar mais autonomia política, saindo reforçadas quando, em 2013, o presidente Víktor Yanukóvytch rejeitou um acordo com a União Europeia e iniciou uma reaproximação ao governo russo. A população ucraniana, principalmente aquela concentrada nas grandes cidades do Oeste, iniciou então enormes protestos que culminaram com a demissão do presidente ucraniano. Tirando partido do caos político instalado, a Rússia anexou a região da Crimeia, em Março de 2014, ao mesmo tempo que militantes pró-Rússia fundavam as repúblicas autónomas de Donetsk e de Luhansk. O acordo de Minsk, em fevereiro de 2015, “congelou” o conflito, mas as escaramuças não cessaram. Até à invasão da Ucrânia pela Rússia, em 24 de Fevereiro de 2022, mais de 14 mil pessoas haviam morrido no conflito no Donbass e mais de um milhão e meio vira-se obrigada a abandonar a região.
Segunda longa-metragem de Daria Onyshchenko, realizadora ucraniana a viver na Alemanha, “Esquecido” visita o conflito russo-ucraniano num momento de escalada das tensões. O epicentro é a cidade de Luhansk onde Nina, uma professora de língua ucraniana, vive com o marido sob um regime de ocupação estrangeira. Obrigada a frequentar um curso de reciclagem para o ensino da língua russa, caso queira manter o seu emprego, a mulher sente-se abandonada. Vive num território ocupado, enfrenta um estado de caos construído sobre a violência e a intolerância e os seus valores não coincidem com os valores que a maioria silenciosa professa ou aos quais foi forçada a acostumar-se. Sente, sobretudo, que foi posta de parte por uma pátria de onde foi arrancada pela guerra. Desde o início, percebemos o quanto Nina se sente deslocada na nova ordem instituída - ao contrário do seu marido que, de alguma forma, consegue adaptar-se.
Traçando um conjunto de linhas de demarcação entre as personagens, de forma a retirar qualquer ambiguidade à mensagem que pretende fazer passar, Onyshchenko posiciona-se do lado da Ucrânia, no que ao conflito que a opõe à Rússia diz respeito. Esta sua posição, porém, não é reverencial ou incondicional, antes evidencia o mal estar instalado entre a população mais ocidental e aquela proveniente dos enclaves a Leste. Este cariz de denúncia confere ao filme a sua maior força, lembrando o quanto se pode ser “apátrida”, apesar de todos os passaportes que se possam ter. Fraquezas, porém, são muitas. O romance, com contornos de melodrama, entre a professora e um aluno, é suficientemente inábil para não parecer forçado, ao mesmo tempo que a resistência ucraniana é apresentada de forma caricatural na forma de dois espiões completamente inaptos. As reportagens jornalísticas, encenadas na sua maioria, parecem totalmente redundantes e o discurso político está completamente ausente do filme. “Esquecido” acaba por retirar algum proveito do actual momento de guerra na Ucrânia mas o seu fim último é o de vir a ser isso mesmo, esquecido.
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