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segunda-feira, 2 de agosto de 2021

EXPOSIÇÃO DE PINTURA: "Deambulaia" | André Gigante


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EXPOSIÇÃO DE PINTURA: “Deambulaia”,
de André Gigante
Centro de Arte de Ovar
16 Jul > 30 Out 2021


“Entregue o toque da tinta, ao suspense da pincelada, toda ela uma história, que passa a traço, e é espaço. Em amarelo, embriagada, uma mais tímida, mas bem comprida e arrojada, vai tão longe sem andar quase nada, não quer ter nome, demasiado, quer a surpresa, e ser só dela, em suspensão, ir embalada.”
André Gigante

Apresentada pela primeira vez na Fundação Escultor José Rodrigues, em Junho de 2018, a mostra de pintura “Deambulaia”, de André Gigante, chega agora a Ovar onde, na Galeria de Exposições do Centro de Arte, lança um convite à viagem e à descoberta. Firmemente enraizada no abstracionismo, com uma forte matriz expressionista, “Deambulaia” propõe-se desafiar os sentidos do visitante por meio de cores vivas e traços enérgicos que são aqui sinónimos de alegria, exaltação e liberdade. Nas texturas e nos matizes, no que mostra e no que sugere, na forma como as obras “dialogam” entre si e como interpelam o visitante, esta é uma série de trabalhos que traz consigo a surpresa a cada novo olhar, se oferece a um desvendar sereno e se abre ao interior de cada um pela forma como convoca e enlaça histórias e memórias.

Numa leitura muito pessoal, “Deambulaia” propõe um belíssimo passeio à beira-mar. Um passeio calmo, em recolhimento, escutando o tumulto das ondas e o soprar dos ventos, de par com o restolhar dos pés nus que se enterram na areia e o bater ritmado do coração. Mergulho o olhar no conjunto de trabalhos expostos e descubro um barco no balanço das vagas, o estridor das gaivotas, um promontório rochoso que abriga uma baía de águas calmas, redes que se recolhem carregadas de promessas, o voo geométrico dos corvos-marinhos, artes de pesca espalhadas pelo areal, uma baleia no seu mergulho em apneia, uma onda que se desfaz em espuma ao chegar à praia. É esse o meu olhar. Um olhar sem tempo, que é de agora, mas que é também o do meu tempo de menino. Excitado ante a surpresa, maravilhado ante a descoberta.

Na pintura de André Gigante percebe-se com nitidez o seu olhar de fotógrafo, a obra como um detalhe, parte reduzida de um todo que se estende para lá da tela, que não está lá, mas está, ao mesmo tempo. Há nela, também, o seu lado de arquitecto, um conceito geométrico muito próprio que se evidencia em matéria de espaço, profundidade e proporção. A isto acrescenta o artista a música, uma das grandes directrizes desta série, na busca de dimensões que façam a ligação entre o racional e o emocional. Insere-se neste contexto o convite ao maestro Rui Massena, que muito a propósito escreve: “(…) Quando por oposição o gesto minimal ocupa a tela, percebemos que vinte notas podem ter o mesmo peso do que uma, assim seja a única possível naquele lugar. O silêncio também tem música. (…)”  É neste turbilhão, com tanto de inquietação como de fascínio, que o visitante, irremediavelmente, se vê envolvido. Preso, mas livre. Uma exposição preciosa, para ver até finais de Outubro.

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