[Clicar na imagem para ver mais fotos]
EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “O
Tempo das Mulheres”,
de Alfredo Cunha
Museu de Lisboa – Torreão Poente
08 Nov 2019 > 31 Jan 2020
“Somos mulheres ou homens, por um
jogo de acasos, desde o momento da concepção. Mas não é esse
facto que nos une, a nós, mulheres. Vivemos em hemisférios
diferentes, em continentes, países e sociedades desiguais, trilhamos
percursos de vida próprios. A desigualdade que nos separa não
depende da cor da pele, nem da língua que falamos, do traje que
usamos, ou sequer da idade. O que nos torna diferentes é a cultura,
as tradições, a circunstância de usufruirmos ou não de direitos.
Nada disto depende de nós. O que nos torna diferentes é o facto de
sermos livres ou não.”
Maria Antónia Palla
Maria Antónia Palla
O que há de comum entre a imagem de
uma criança que se senta encostada a uma cruz tombada, de uma jovem
que carrega um peixe à cabeça ou de uma idosa a banhar-se numa
piscina? Desde logo, o facto de serem mulheres, mas também o terem
sido objecto de atenção de uma lente fotográfica e, através dela,
do olhar de Alfredo Cunha. Em “O Tempo das Mulheres”, são precisamente esses dois aspectos que saltam à
vista: O facto de ser esta uma forma de celebrar a condição
feminina nas várias fases da vida, realçando a beleza,
sensibilidade e importância da mulher nas sociedades, ao mesmo tempo
assinalando os 50 anos de carreira deste veterano do foto-jornalismo,
um artista que soube, tantas e tantas vezes, estar no momento certo à
hora certa, trazendo-nos histórias e memórias de paisagens,
revoluções, gente ilustre ou vidas alheias, sob a forma de
magníficos retratos.
Atenta aos ritmos da vida e à
diversidade cultural da figura feminina no nosso mundo, “O Tempo
das Mulheres” tem como ponto de partida o livro homónimo editado
no passado mês de Novembro pela Tinta da China, com imagens recolhidas em
mais de duas dezenas de países entre 1970 e o ano presente, de entre as quais Alfredo
Cunha seleccionou cerca de sessenta fotografias. Acrescentou-lhes
excertos dos belíssimos textos de Maria Antónia Palla, igualmente
“roubados” ao livro, e dividiu-as em quatro “capítulos”
essenciais: “A Infância”, “A Juventude”, “A Idade Adulta”
e “A Terceira Idade”. O resultado é uma viagem pelas sete
partidas do mundo, ao encontro da essência, inexplicavelmente única,
simples e complexa, do “ser mulher”. Da Guiné Bissau à Índia,
do Níger a Timor, as imagens do fotógrafo e os textos da jornalista
e escritora oferecem ao espectador um vislumbre da evolução
histórica dos direitos das mulheres e põem a nu as desigualdades, sobretudo de
género, em diferentes contextos económicos, políticos e sociais.
Retratadas por Alfredo Cunha num
irredutível preto e branco, estas mulheres contam histórias onde a
dor e o riso passeiam de mãos dadas com a angústia e a coragem. São
histórias de afirmação e de insubmissão, mas também de
resignação e resistência. Através delas, o fotógrafo lembra que
ser mulher é ouvir com um abraço, é sorrir com os olhos, é chorar
com o espírito e é sonhar quando nas costas se carregam culpas
alheias. Ser mulher é sofrer, intuir, angustiar-se e
dar a mão. Neste conjunto de imagens fortes, ele diz-nos também que
todos os dias são dias da mulher e que exaltá-las é celebrar a
vida e lembrar que nelas a vida fere mais fundo e mais fecundo.
Ou, como canta Vinicius no pungente “O Desespero da Piedade”,
“ninguém mais merece tanto amor e amizade, ninguém mais deseja
tanto poesia e sinceridade, ninguém mais precisa tanto de alegria e
serenidade”. A não perder, no Museu de Lisboa - Torreão Poente, até ao dia 31 de Janeiro do próximo ano.
Sem comentários:
Enviar um comentário