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sexta-feira, 7 de junho de 2019

CINEMA: "Sinónimos"



CINEMA: “Sinónimos” / “Synonyms”
Realização | Nadav Lapid
Argumento | Nadav Lapid, Haim Lapid
Fotografia | Shaï Goldman
Montagem | Neta Braun, François Gédigier, Era Lapid
Interpretação | Tom Mercier, Quentin Dolmaire, Louise Chevillotte, Uria Hayik, Olivier Loustau, Yehuda Almagor, Gaya Von Schwarze, Gal Amitai, Idan Ashkenazi, Dolev Ohana, Liron Baranes
Produção | Saïd Bem Saïd, Michel Merkt
França, Israel, Alemanha | 2019 | Drama | 123 minutos | M/14
Cinema Dolce Espaço
07 Jun 2019 | sex | 16:00


“Sinónimos” parte de uma ideia muito simples: Yoav, um jovem israelita, chega a Paris na expectativa de que a França e a língua francesa o salvem da loucura em que Israel está mergulhado. Mas nem sempre as coisas, ainda que não sejam verdadeiramente complicadas, são lineares e a sua verdade é assim tão clara. Nadav Lapid não faz qualquer esforço em esconder-se por detrás de uma história que é, em grande medida a sua, embora o filme funcione menos como uma auto-ficção e seja sobretudo o vincar da ideia de que cada vida é uma janela aberta ao mundo, servindo o filme para mostrar aquilo que o realizador observa e pretende transmitir a partir da sua própria janela.

A história de Yoav reveste-se de contornos muito particulares, o mais perturbador dos quais reside na sua recusa em falar hebraico. Tomar um avião e aterrar em França não chega para atingir a necessária distância. É fundamental que o corte com Israel seja radical e isso implica sacrificar a própria língua. Apagar o seu passado e a sua identidade através da língua torna-se uma verdadeira obsessão para o protagonista, visto residir na língua materna a matriz da construção mental de qualquer indivíduo. Porém, mais do que a língua francesa que Yoav declama como se de pura poesia se tratasse, é à palavra que o jovem acaba por se agarrar, às associações de palavras, às aliterações e, claro, aos sinónimos. É através delas que se contam histórias, aqui com um ritmo e uma eloquência que, na realidade, não fazem parte do quotidiano. Paradoxalmente, a linguagem visual do filme é particularmente física, Tom Mercier representando um Yoav que nos oferece uma verdadeira coreografia de atitudes, de movimento e inércia do corpo, de gestos muito estudados.


“Sinónimos” é um filme interessante e ao qual ninguém fica indiferente, o dedo acusador apontado ao mundo e não apenas aos dois países invocados, a França e Israel. Talvez se dispensassem alguns exageros maneiristas na forma como Nadav Lapid desenvolve este trabalho, talvez não seja evidente que a história precisasse de mais de duas horas para ser contada, talvez se aceitem as razões daqueles que contestam a atribuição do Urso de Ouro ao filme na mais recente edição da Berlinale, mas isso não invalida que “Sinónimos” seja um bom filme e que não mereça o tempo de uma ida ao cinema. A ver, portanto!


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