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terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

CONCERTO: "Aqui Está-se Sossegado", por Camané & Mário Laginha



CONCERTO: “Aqui Está-se Sossegado”,
por Camané & Mário Laginha
Centro de Artes de Águeda
09 Fev 2019 | sab | 21:30


Com mais de três décadas de carreira, Mário Laginha foi sendo conotado com o domínio do jazz, até por ter sido um dos fundadores do Sexteto de Jazz de Lisboa (1984), por ter criado o Decateto Mário Laginha (1987) e por liderar, ainda hoje, um trio com o seu nome. Mas o universo musical que construiu, nomeadamente com a cantora Maria João, é também um tributo às músicas que sempre o tocaram, das sonoridades brasileiras, indianas e africanas, à pop e ao rock, sem esquecer as bases clássicas que presidiram à sua formação académica. Todavia, depois do que ouvimos na noite do passado sábado, no Centro de Artes de Águeda, parecem não restar dúvidas de que é chegada a hora do fado, de tal forma é sentida a sua interpretação da “canção nacional” ao piano, apoiada na cumplicidade estabelecida em palco com Camané – fadista com lugar cativo no muito restrito clube dos grandes intérpretes portugueses e, em particular, no difícil, exigente e concorrido mundo fado.

Não foi a primeira que os dois artistas trabalharam juntos, pelo que se percebe que as colaborações esporádicas entre ambos proporcionaram o inevitável aprofundamento dessa simbiose. O resultado final chama-se “Aqui está-se sossegado” e foi pensado de raiz para dar mais brilho a uma voz e a um piano que se descobriram cúmplices. Perante uma sala praticamente lotada, Camané puxou da sua voz, do seu enorme talento interpretativo, do fado que carrega consigo e, embalado nas teclas de Mário Laginha, ofereceu momentos sublimes da melhor música e que viriam a causar uma forte emoção no público. Do incontornável “Não Venhas Tarde”, a “Triste Sorte”, já no “encore” final, foram quase uma vintena os temas interpretados com o maior rigor, passando em revista o melhor de Camané mas também alguns temas de enorme beleza e harmonia da autoria de Mário Laginha.

Profundamente intimista, este concerto foi também uma homenagem a alguns dos nossos maiores poetas. De Fernando Pessoa escutou-se “O Amor Quando Se Revela” ou “Aqui Está-se Sossegado”, este último sendo o pretexto para Camané homenagear o seu bisavô, “natural aqui de perto, da Murtosa, o homem que trouxe o fado para a nossa família”. Pedro Tamen veio a palco com “Redond/Ilha”, Álvaro de Campos e “Ai Margarida” lembraram o primeiro tema que Mário Laginha musicou para Camané, de Alain Oulman cantou-se “Te Juro” e o precioso “Sei De Um Rio”, Se Amanhã Fosse Domingo trouxe-nos João Monge e David Mourão Ferreira marcou presença com “Madrugada de Alfama”. O enorme Luís de Camões também não foi esquecido, dele se cantando “Com Que Voz” e “Amor É Um Fogo Que Arde Sem Se Ver”, assim como o próprio Camané, com dois dos seus maiores sucessos, “Ela Tinha Uma Amiga” e “A Guerra das Rosas”. Concerto esmagador, “Aqui Está-se Sossegado” é um hino de amor à música. Resta-nos esperar que Camané e Mário Laginha o possam publicar em disco e que, de alguma forma, os momentos únicos vividos em Águeda possam ser recordados como bem merecem.

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