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terça-feira, 29 de janeiro de 2019

LIVRO: "Então, boa noite"



LIVRO: “Então, boa noite”,
de Mário Zambujal
Clube do Autor, Novembro de 2018


Mário Zambujal está para a escrita como Woody Allen está para o cinema. Quando o final do ano já espreita, podemos contar com eles para nos trazerem algo de novo. E, quer seja pela leveza de estilo destes dois octogenários, quer seja pela certeza de momentos divertidos e pela mensagem de optimismo que fazem questão de passar, são sempre aguardados com expectativa e acolhidos com redobrado prazer. No caso do escritor, tem sido assim desde que publicou o saboroso “Já Não Se Escrevem Cartas de Amor” e tal volta a suceder dez anos e outros tantos livros depois com “Então, boa noite”, o seu último romance. Convirá dizer, porém, que entre o A ao Z, que é como quem diz entre o Allen e o Zambujal, há uma enorme diferença. É que, em Mário Zambujal, as personagens são tudo menos complexas e, se as situações tendem a complicar-se, lá está o proverbial desenrascanço a vir ao de cima e a provar que ninguém como o português domina tão bem arte tão nobre.

“Então, boa noite” traz-nos a história de Afonso Júlio, trintão no BI e galã por vocação, a quem cai no colo uma inesperada herança, com direitos e deveres acoplados. Disposto a gozar dos primeiros e a honrar os segundos, o homem vê-se confrontado com um conjunto de factos intrigantes, os quais é obrigado a deslindar. Para complicar as coisas, Afonso Júlio é de súbito traído pela plasticidade dos seus neurónios, entrando em contraciclo com o que é da natureza humana, isto é, manter-se desperto durante o dia e deixar a noite para o sono repousante.

De leitura fácil, desempoeirada, “Então, boa noite” é um excelente programa para um serão de leitura, oferecendo um conjunto irresistível de peripécias em torno da acidentada vida nocturna (ou diurna?) deste incorrigível sedutor. Combinando sabiamente o “démodé” com o que há de mais actual – veja-se como “dancings” e “feicebuques” coabitam pacificamente – Mário Zambujal mostra-nos que há coisas que não mudam, o “marialvismo” sendo disso o mais acabado exemplo. A forma como a figura de Afonso Júlio está construída leva o leitor a aceitá-lo nas suas fraquezas e a alinhar do seu lado, à espera de ver cumpridos os seus mais íntimos desejos. Como sempre, o bem acaba por vencer e o leitor poderá dormir tranquilo e com um sorriso nos lábios. A menos que a plasticidade dos neurónios o venha também a trair!

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