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domingo, 20 de janeiro de 2019

CINEMA: "Dogman"



CINEMA: “Dogman”
Realização | Matteo Garrone
Argumento | Ugo Chiti, Massimo Gaudioso, Matteo Garrone
Fotografia | Nicolaj Brüel
Montagem | Marco Spoletini
Interpretação | Marcello Fonte, Edoardo Pesce, Nunzia Schiano, Adamo Dionisi, Francesco Acquaroli, Gianluca Gobbi, Alida Baldari Calabria, Laura Pizzirani, Giancarlo Porcacchia
Produção | Paolo Del Brocco, Jean Labadie, Jeremy Thomas, Matteo Garrone
Itália, França | 2018 | Crime, Drama, Thriller | 103 Minutos | M/14
Cinema Dolce Espaço
20 Jan 2019 | dom | 18h30


Num lugar esconso dos arredores de Roma, onde a única lei parece ser a do mais forte, Marcello vive o dia a dia entre o trabalho no seu salão de beleza para cães, os momentos com a filha Alida e uma estranha relação de subalternidade a Simone, um homem violento que se compraz em aterrorizar o bairro. Disposto a recuperar a dignidade após a enésima humilhação por parte do ex-pugilista, Marcello idealiza uma vingança de consequências inesperadas.

Tal como no aclamado Gomorra (2008), as relações humanas e os subúrbios pobres duma grande cidade voltam a ser o alvo da atenção do realizador italiano. O passo sincopado de vidas sem esperança, de permeio com a impulsividade e a violência, coincide com o enorme trabalho de câmara de Garrone, genial na arte de recriar ambientes. Filme cru por excelência, ao longo do qual a tensão se vai insinuando lentamente, “Dogman” beneficia ainda do notável contributo de Marcello Fonte no papel principal, trabalho que não passou despercebido em Cannes onde lhe foi outorgada a Palma de Ouro para a melhor interpretação masculina. Ele é o veículo emocional que arrastará o olhar do espectador ao longo do filme, dos momentos mais luminosos ao mais negro dos infernos.

De um ponto de vista estrutural, a construção do filme é exímia. Começa muito lentamente, crescendo de intensidade à medida que o filme avança. Também o argumento encaixa perfeitamente na narrativa fílmica, em torno de figuras que nada têm, mas que - nem sempre de maneira justa mas dentro daquilo que é possível -, procuram fazer algo da sua vida. Os edifícios degradados, um mar sempre cor de cinza e a desolação que atravessa ruas e becos, ilustram de forma pungente toda essa desesperança. E há ainda o estudo psicológico desse homem sensível e aparentemente pacífico, que suporta a vida que lhe impõem até ao limite do tolerável, acabando por incarnar o pior do ser humano.

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