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segunda-feira, 26 de novembro de 2018

CONCERTO: Danças Ocultas com Jacques Morelenbaum e Dora Morelenbaum



CONCERTO: Danças Ocultas com Jacques Morelenbaum e Dora Morelenbaum
Misty Fest 2018
Casa da Música
21 Nov 2018 | qua | 21:00


Quando todos pensavam que, com o sublime “Amplitude” - álbum lançado em 2016 e que contou com a participação da Orquestra Filarmonia das Beiras -, os Danças Ocultas tinham atingido o topo duma carreira de duas décadas de enorme sucesso e já pouco mais teriam para dar, eis que surgem agora, com redobrado “fole”, oferecendo uma nova pérola à qual deram o nome de “Dentro Desse Mar”. Um mar que é o vasto e imenso Atlântico, esse mar que abraça, com mãos ambas, Portugal e o Brasil. Foi para nos dar conta desse “abraço” que Artur Fernandes, Filipe Cal, Filipe Ricardo e Francisco Miguel, quarteto de Águeda que trata as concertinas como ninguém, subiram ao palco da Casa da Música, trazendo na bagagem mil histórias para contar e mil imagens para mostrar. Mas não vieram sós. No seu seio, acolheram o violoncelista Jacques Morelenbaum – igualmente produtor deste novo trabalho -, Dora Morelenbaum e Carminho, que emprestaram a voz a quatro temas interpretados ao longo do concerto, um quarteto de cordas composto por Mafalda Vilan, Tiago Afonso, João Tiago Dinis e Raquel Andrade e ainda Quiné Teles nas percussões e Marco Figueiredo nas teclas.

Com o som e o ritmo de “Azáfama” a colorirem uma sala bem composta de público, dir-se-ia que o concerto não poderia ter tido melhor começo. Trata-se dum tema alegre e cheio de vida, que remete para sonoridades do centro da Europa, mais propriamente para os Balcãs (quem viu “Gato Preto, Gato Branco” e é fã de Emir Kusturica perceberá muito bem a particular geografia desta música). Entre “S. João”, a música seguinte, e o intimista e muito belo “Oniris” (também aqui podemos associar o cinema e a geografia a este tema, situando-o na Grécia e invocando “A Eternidade e um Dia”, um filme de Theo Angelopoulos com música de Eleni Karaindrou), Dora Morelenbaum marcou presença no palco para interpretar magistralmente “Dessa Ilha”, um poema de Arnaldo Antunes, e “As Viajantes”, com letra de Carlos Rennó. Seguiu-se “Esse Olhar”, um dos temas icónicos do trabalho anterior, e ainda duas músicas de cariz bem popular, “Moda Assim ao Lado” e “Queda d'Água”, do álbum de estreia que tomou o nome do grupo. Embora sem intervalo, devemos aceitar que “Sorriso” marcou o fim da primeira parte do concerto, revelando-se preciosa a forma como o grupo recuperou um tema surgido em 2004 com o álbum “Pulsar”, transformando-o, quiçá, no mais bem acabado exemplo desta ponte musical entre os dois países irmãos.

E se “Sorriso” fechou a primeira metade do concerto, “O Teu Olhar” deu o “pontapé de saída” para a segunda parte, na voz inigualável de Carminho. O resto do concerto foi um saltitar constante entre sons e ritmos, fazendo alternar temas como “Bailar em Silêncio” ou “Soldado”, do álbum mais recente, com autênticos clássicos dos Danças Ocultas, como “Bulgar” (do álbum “Ar”, de 2011), “Tristes Europeus” e “Casa do Rio”, ambos do já referido “Pulsar”, ou ainda “Dança II”, do álbum “Danças Ocultas”. Tempo ainda para um momento de erudição verdadeiramente inesquecível onde se fizeram sentir, um arrepio na pele, os acordes de “Summertime”. Já nos encores, com duas longas ovações e outras tantas vindas ao palco, o público teve o privilégio de voltar a escutar Carminho, recordando a sua participação em “Amplitude” com “O Diabo Tocador”. A finalizar, “No(c)Turno das 7”, talvez aquele que é o tema mais bonito de todos quantos os Danças Ocultas escreveram até hoje e que nos é oferecido logo no álbum de estreia. O mais belo final de todos, um bálsamo para o espírito e com ele a certeza de ter sido este um dos mais fantásticos concertos do ano!

[Foto: dn.pt]

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