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domingo, 20 de maio de 2018

EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: "Uma Noite no Mar"



EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Uma Noite no Mar”,
de Alfredo Cunha
Museu Marítimo de Ilhavo
19 Mai > 30 Set 2018


Alfredo Cunha dispensa apresentações. É ele o autor de algumas das fotos mais emblemáticas do 25 de Abril e do pós-revolução, nomeadamente do período da descolonização. “Raízes da Nossa Força”, “Vidas Alheias”, “A Norte”, “Os Rapazes dos Tanques” ou “Fátima – Enquanto Houver Portugueses” são relatos a preto e branco que têm a sua assinatura e constituem peças fundamentais para se compreender a essência do ser português. Mas o seu trabalho ultrapassa as fronteiras e, com “Toda a esperança do Mundo”, mostra-nos, de forma pungente, a luta dos escravos nas terras áridas do Níger, o inconformismo dos habitantes dos bairros de lata do Bangladesh, os pescadores no Sri Lanka – os mesmos a quem o mar que os alimenta tudo levou num tsunami apocalíptico -, crianças que sobrevivem no limbo surreal do Haiti, meninas que lutam contra a tradição na Guiné-Bissau eoucurdos encurralados no Iraque pelo Estado Islâmico, resistindo à barbárie e à extinção. São ainda dele, entre outros, os incontornáveis “A Cortina dos Dias” e “Felicidade”, viagens a muitos tons pelas últimas quatro décadas de Portugal e do mundo.

De Alfredo Cunha aporta agora, ao Museu Marítimo de Ilhavo, a exposição “Uma Noite no Mar”. Trata-se dum conjunto de quatro dezenas de retratos que ilustram, com a força do olhar do artista – por umas horas pescador e tripulante –, o trabalho a bordo da traineira Henrique Cambola, acompanhando o mestre e os pescadores na faina da sardinha. É o mar e são as pessoas que andam em cima do mar o objecto desta mostra, como o são as histórias dentro de cada uma das fotografias, marcas identitárias duma comunidade de homens com um sentido do colectivo particularmente vincado, assente nos laços de solidariedade e camaradagem que se reforçam a cada saída para o mar. Mas é também a experiência pessoal de Alfredo Cunha, a forma como consegue conciliar essa capacidade de ver para além do óbvio e a forma como tira partido da luz, que marca o sentido desta mostra.

Fechando um ciclo de eventos dedicados a assinalar o Dia Internacional dos Museus, “Uma Noite no Mar” é uma proposta particularmente sugestiva num Museu que tem por missão a preservação da memória do trabalho no mar e a promoção da cultura e da identidade marítima dos portugueses. A exposição é acompanhada dum magnífico catálogo que pode ser adquirido na Loja do Museu a um preço quase simbólico e que traduz o cuidado com que o Museu trata os seus convidados. Importa não esquecer que as mostras passam mas os catálogos, testemunhos da sua passagem, permanecem. Agora que o Museu se prepara para assinalar a presença do visitante número 1.000.000, é tempo de dirigir para lá os passos e, a pretexto desta exposição, (re)visitar um espaço ímpar. Como ímpar é “Uma Noite no Mar”, de Alfredo Cunha.

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