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segunda-feira, 16 de abril de 2018

CONCERTO: Pedro Barroso



CONCERTO: Pedro Barroso
Auditório dos Plebeus Avintenses
14 abr 2018 | sab | 21:30


Dizer que a música de intervenção é parte importante do nosso património cultural será, porventura, palavra vã para muitos. Mas aqueles que viveram o 25 de Abril com o coração aos saltos, que provaram “naquela clara madrugada” o sabor da liberdade e que não deixaram de associar as mais doces memórias da revolução às suas músicas e aos seus autores, cantam ainda hoje a “Grândola”, “Que Força é Essa” ou “Eu Vi Este Povo a Lutar” com a mesma emoção de há 44 anos atrás. E foi num auditório repleto desta gente, gente entusiástica, gente que continua a ver “na cantiga uma arma”, que teve lugar na chuvosa e fria noite do passado sábado um concerto a todos os títulos memorável. Em palco – para celebrar Abril, render homenagem a Adriano Correia de Oliveira e assinalar o centenário dos Plebeus Avintenses, bandeira maior do teatro amador em Portugal -, Pedro Barroso mostrou o porquê de ser uma das figuras mais queridas do Canto Livre, brindando os presentes com a força da sua música e a emoção dos seus poemas.

“Cantarei”, do álbum “Cantos À Terra-Madre” (1982) abriu o concerto e, logo ali, se percebeu ao que todos vínhamos. Na plateia entoava-se com emoção o refrão, depois de escutar as palavras do poeta: “Por isso invento caminhos / mais cantigas viajantes / e sinto música nos dedos / com a mesma força de antes”. Estava dado o mote. As cordas do violoncelo sugeriam agora o grito das gaivotas, levando-nos pelas areias da Praia da Areia Grande, ao encontro de um homem apaixonado. “Água”, do álbum “Roupas De Pátria Roupas De Mulher” (1986), dava a ver “(…) um povo antigo / a cantar comigo uma canção de roda”, irmanando músicos e público na celebração e no júbilo. Os poemas continuavam a fluir, belos e sentidos, e Pedro Barroso dirigia-se ao auditório ao cantar “Bonita”, do álbum “De Viva Voz” (2002), sabendo que “é tão difícil encontrar pessoas assim bonitas”. O tangueado “Música, Música” transportou-nos a 2012 e ao álbum “Cantos da Paixão e da Revolta”, enquanto no lindíssimo “Jardim de Poetas” [do álbum “Pedro Barroso Ao Vivo no Rivoli – Memória do Futuro”, 2013] se intuía uma homenagem sentida a Carlos Paredes, Zeca Afonso, José Carlos Ary dos Santos e tantos outros.

O alinhamento da segunda metade do concerto privilegiou canções de outros poetas e trovadores. Entoou-se “Verdes São os Campos”, escrito por Luis Vaz de Camões e com música de Zeca Afonso, “ergueu-se a voz e cantou-se” com António Macedo, em “Canta, Amigo, Canta”, chamou-se por Adriano e pela sua “Trova do Vento que Passa” e, já no “encore”, lembrou-se aquela que é, para Pedro Barroso, “a mais bonita música portuguesa do Século XX”: “Pedra Filosofal”, de Manuel Freire, com letra de António Gedeão. E, claro, ouviu-se um poema extraído de um dos livros do cantor, “Das Mulheres e do Mundo” e revisitou-se aquele que é, sem dúvida, o maior sucesso duma carreira de quase cinquenta anos, “Menina Dos Olhos D'Água”, do álbum “Cantos da Borda D'Água”, de 1984. Todos sentimos no peito “vontades marinheiras de aproar, (…) aspirámos o feno no corpo inteiro e (...) aprendemos a amar a madrugada”. Foi bonito, muito bonito mesmo. E “se houver alguém que não goste / não gaste, deixe ficar”.

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