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segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

TEATRO: "Actores"



TEATRO: “Actores”,
de Marco Martins
Encenação | Marco Martins
Interpretação | Bruno Nogueira, Carolina Amaral, Miguel Guilherme, Nuno Lopes, Rita Cabaço Produção | Arena Ensemble, São Luiz Teatro Municipal, Teatro Nacional S. João e Centro de Arte de Ovar
Centro de Arte de Ovar | 25 Fev 2018 | dom | 17:00


Após a sua estreia no São Luiz Teatro Municipal e passagem pelo Teatro Nacional de S. João, foi agora a vez do Centro de Arte de Ovar receber a peça “Actores”, com dramaturgia e encenação de Marco Martins. Casa cheia para três dias de espectáculo – uma raridade no panorama concelhio - e um público em delírio, absolutamente rendido à qualidade da peça e às interpretações de Bruno Nogueira, Carolina Amaral, Miguel Guilherme, Nuno Lopes e Rita Cabaço, são as marcas distintivas deste verdadeiro acontecimento cultural por terras de Ovar.

Baseada em relatos autobiográficos dos intérpretes – à excepção de Carolina Amaral que interpreta as vivências de Luisa Cruz, actriz que integrava inicialmente o projecto –, incluindo textos que os próprios já representaram ao longo da sua carreira, “Actores” lança um olhar retrospectivo sobre a profissão de palco e sobre os actores, identificados como “atletas emocionais”. Em cena, os cinco dão corpo à proposta de Marco Martins, levando o espectador a olhar para o trabalho de actor de forma desconstruída, como se de um ensaio aberto ao público se tratasse. Vemos, por exemplo, os tiques que os actores têm durante o aquecimento, vemo-los de fato-de-treino, com papéis nas mãos e vemo-los a repetirem o mesmo texto com diferentes entoações, percorrendo a paleta de emoções humanas na íntegra.

Recuperando algumas das muitas memórias, os actores lembram vitórias e derrotas, chamam para primeiro plano o início da sua caminhada na arte de representar, falam de audições em que participaram e expõem abusos de encenadores, realizadores e professores de teatro, recordam a figuração, os anúncios de TV ou as festas privadas que têm, por vezes, de suportar. Ao de cima vem o desgaste emocional que a profissão acarreta – não é por acaso que se fala em “desistir e partir para outra”, se descrevem pesadelos, se contam histórias de “brancas”. São três horas em que acompanhamos o trajecto daquelas cinco personagens, fazendo de si próprias ou do “vizinho do lado”. São histórias e são memórias que fazem rir e chorar. É o jogo do gato e do rato entre o real e o ficcionado, na certeza de que é no meio que está a virtude. É o teatro na sua condição natural, centrípeto, máquina que sofre e faz sofrer, que contraria, que contagia. É o teatro no seu melhor!

[Foto: Jorge Gomes, Câmara Municipal de Loulé / facebook.com/cineteatrolouletano/]

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