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domingo, 26 de janeiro de 2025

LIVRO: "Marcas que fazem Portugal"



LIVRO: “Marcas que fazem Portugal”,
de Margarida Vaqueiro Lopes
Ed. Francisco Manuel dos Santos, Setembro de 2024


“Na altura já Calouste Gulbenkian fazia questão de ter Mateus à mesa sempre que jantava com actrizes célebres (o que dava boas fotografias de revista), sendo que até Elton John eternizou o vinho em Social Disease, de 1973, onde canta: “I get juiced on Mateus and just hang loose” (“Fico animado com Mateus e deixo-me levar”, numa tradução muito livre). Jimi Hendrix foi fotografado a beber Mateus pela garrafa - eis a vantagem de Van Zeller Guedes ter escolhido um formato perfeitamente identificável, mesmo quando não se vê o rótulo - e há também registos de Amália Rodrigues a degustar o rosé da Sogrape. Publicidade instantânea com os influenciares de então.”

De forma cíclica, é com gosto que trago um “Retrato da Fundação” às páginas do blogue. Conjunto de publicações da Fundação Francisco Manuel dos Santos, a colecção permite aos leitores terem um olhar mais próximo da realidade do nosso país. Neste Portugal “olhado e vivido, narrado por quem o viu - e vê - de perto”, os livros ajudam-nos a conhecer um pouco melhor a nossa realidade em áreas como a demografia ou a justiça, a saúde, a habitação ou a cultura. Volto de novo a eles com estas “Marcas que fazem Portugal”, um trabalho da jornalista Margarida Vaqueiro Lopes carregado de histórias e que convoca algumas boas memórias, sobretudo para aqueles que, como eu, já contam em cima dos ossos uma largas dezenas de voltas ao sol. Da “história real” da Bênamor à “arrojada” Viúva Lamego, aquilo que aqui encontramos é um conjunto de marcas de referência que nos habituámos a admirar e, porque não dizê-lo, a cobiçar, e que têm atrás de si toda uma história de sonho e empreendedorismo, resiliência e capacidade de inovar, sem descurar a vertente social, de valorização dos muitos que diariamente “vestem a camisola” e as elevam a patamares de excelência em Portugal e no mundo.

Sabia que o creme de rosto Bênamor era o favorito da rainha Dona Amélia ou que a Delta começou com um pequeno armazém com capacidade de torrar trinta quilos de café por dia e hoje torra mais de cem toneladas? Que a forma das garrafas de Mateus rosé foi buscar inspiração aos cantis dos soldados da I Guerra Mundial ou que duas caixas de madeira da Casa Havaneza estão na base da empresa de mobiliário Olaio? Que o “Black Edition”, com o qual a Renova vem sendo distinguida com dezenas de prémios, é inspirado num grupo de trapezistas do Cirque du Soleil ou que a pasta Couto foi a primeira pasta dentífrica surgida em Portugal quase há cem anos? Que a Ramirez é pioneira a nível mundial na comercialização de latas de conserva de abertura fácil ou que a Sanjo calçou os soldados portugueses que combateram nas ex-colónias? Que a Vista Alegre, com duzentos anos, é a fábrica de faiança mais antiga da Península Ibérica ou que a Viúva Lamego promove há cem anos residências artísticas, os chamados “casulos”, por onde passaram nomes incontornáveis das artes e do design como Jorge Barradas, Maria Keill, Joana Vasconcelos ou Ai Weiwei? Enfim, que a Croft, enquanto casa de vinhos, é muito mais antiga do que o Vinho do Porto?

Estão feitas as apresentações das dez marcas de referência (e mais uma extra, precisamente a última) que Margarida Vaqueiro Lopes elegeu para figurar neste livro. Muitas mais marcas poderia ser elencadas, mas ser exaustivo não estava nos propósitos de autora, que optou por marcas que representassem a maior diversidade de sectores possível. Todas elas são marcas que falam de Portugal, que têm história (ou antiguidade, se preferirmos), que obtiveram algum protagonismo internacional e que, ao longo do seu percurso, têm sido exemplos de consistência e inovação. São, no seu conjunto, exemplos maravilhosos de um “território feito de perfis, gentes e produtos tão diferentes que devem ser valorizados pela sua capacidade de reinvenção, resiliência e adaptação a um mundo que teima em andar cada vez mais rápido, alterando paradigmas a uma velocidade estonteante. É por isso que contar a história destas marcas se torna tão importante: porque são elas, afinal, que nos dão o conforto da certeza, mesmo quando o mundo teima em baralhar-nos”. Um belo livro que, tal como os outros da colecção, merece especial atenção (e que pode ser adquirido pelo módico preço de 5,00 euros). Boas leituras.

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