VISITA GUIADA: “Júlio Dinis e
o Porto”
Orientada por | Professor César
Santos Silva
Organizada por | Confraria das
Almas do Corpo Santo de Massarelos
04 Nov 2017 | sab | 10:00
Se Dublin tem um percurso literário
em torno da personagem Molly Bloom, do “Ulisses” de James Joyce ou se Oxford tem igualmente um percurso baseado nas personagens de
“Harry Potter”, de J. K. Rowling, porque não o Porto ter o seu próprio percurso literário, ao encontro do escritor e
médico (ou médico e escritor) Joaquim Guilherme Gomes Coelho (1839
– 1871), mais conhecido pelo seu pseudónimo Júlio Dinis? Foi este
o desafio que o Professor César Santos Silva terá colocado a si
próprio, elegendo o romance “Uma Família Inglesa” (1868) para melhor ilustrar o seu propósito e “acompanhando” a figura de Manuel Quintino no seu passeio semanal pela cidade. É com base, pois, no trajeto que este guarda-livros do escritório Whitestone fazia, “sempre o mesmo, semana após semana”, que é lançado o convite aos participantes a que saibam um pouco mais de “Júlio Dinis e o Porto”, numa iniciativa da Confraria das Almas do Corpo Santo de Massarelos.
A visita poderia começar naquilo
que foi antes a Rua do Reguinho, ali para Miragaia, onde Júlio Dinis
nasceu no dia 14 de Novembro de 1839. Antes, teve o seu início em
plena Rotunda da Boavista, onde desemboca a Rua que leva o nome do
escritor, em frente ao Monumento aos Heróis da Guerra Peninsular. O belíssimo conjunto, da autoria do arquiteto Marques da Silva e do escultor Alves de Sousa, abre a César Santos Silva a oportunidade para nos situar num Porto a viver
ainda os reflexos da luta e sofrimento contra os exércitos Franceses
Napoleónicos e entretanto a braços com uma guerra civil entre
Cartistas e Setembristas, que duraria oito meses, numa altura em que
Júlio Dinis tinha sete anos de idade. Tempos duros, tempos de muita
fome e miséria aos quais se juntará a tuberculose, que virá a
dizimar a família, levando a mãe e os oito irmãos de Júlio Dinis,
levando-o a ele próprio a 12 de Setembro de 1871.
Dado o mote para a visita guiada, é
todo um manancial de informação e de conhecimento que vai sendo
transmitido nas muitas paragens efetuadas ao longo do percurso, ao
encontro de nomes plasmados na toponímia da cidade – Carvalhosa,
Torrinha, Mirante -, de edifícios emblemáticos – o Liceu de
Rodrigues de Freitas, a Igreja de São Martinho de Cedofeita, a
Faculdade de Farmácia, o Centro de Trabalho do Partido Comunista
Português, o Colégio Von Hafe -, de figuras ilustres – dos
arquitetos José Marques da Silva, Rogério dos Santos Azevedo ou
Baltazar Castro aos políticos Rodrigues de Freitas, Aníbal Cunha ou
Cândido dos Reis, passando por Miguel Bombarda, Carlos Alberto e
muitos, muitos outros. Mas não só. Aliando um vasto conhecimento a um sentido de humor requintado, César Santos Silva revela-se um notável comunicador e fala-nos da (hipotética) origem do nome “Cedofeita”, da ironia do nome dado à “Rua dos Bragas”, da “coragem” de D. João VI ou duma “Fábrica dos Asneiros”, assim mesmo, no masculino. E lembra, para além da Rua Júlio Dinis, a Maternidade Júlio Dinis e o Cinema Júlio Dinis.
E quanto a Júlio Dinis e à
personagem de Manuel Quintino? O historiador revelou-se magnânimo e quis poupar os
presentes a uma longa caminhada, “desistindo” de acompanhar o guarda-livros no percurso que
desceria para a Ribeira e depois seguiria até ao Freixo, ao longo da
marginal, para um regresso pela Rua do Heroísmo e Praça do Marquês,
na altura Largo da Aguardente. Imagina-se, pois, o quanto terá
ficado por dizer e que não caberia num programa de duas horas. Mas o
que se disse foi muito. Disse-se, sobretudo, que, sem a intensidade
de um Camilo ou a vivência política de um Eça, Júlio Dinis marca
um tempo e um estilo, deixando um legado literário importante que,
de certa forma, dá a conhecer a realidade do século XIX português.
Será ele, para César Santos Silva, o inventor dos “romances cor
de rosa”, sem qualquer sentido depreciativo. Vítima de tuberculose,
Júlio Dinis deixou-nos com apenas 31 anos de idade. Foi um homem
que, segundo Eça de Queirós, “viveu leve, escreveu de leve,
morreu de leve”. Um homem e um tempo que hoje ficámos a conhecer
melhor!
Gostei imenso deste passeio "virtual" que não tendo o feito realmente, tive oportunidade de "ouvir"um César Santos Silva com o seu vasto conhecimento, e como eu muito aprecio, "um sentido de humor requintado" .
ResponderEliminarAqui nesta escrita mais uma vez o "notável comunicador" é o meu amigo Margarido. Bem haja por estes espaços de BOA cultura. Ana Isabel Campos