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sábado, 25 de outubro de 2025

EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Lebensborn” | Angeniet Berkers



EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Lebensborn”,
de Angeniet Berkers
Coordenação | Alexia Alexandropoulou
Encontros da Imagem Braga 2025
Museu Nogueira da Silva, Braga
19 Set > 02 Nov 2025


O programa “Lebensborn” foi fundado na Alemanha em 1935 sob o III Reich e visava o crescimento de uma população do regime nazi considerada “racialmente pura”. Na busca de reverter o declínio demográfico pós-Primeira Guerra Mundial, o programa incentivava o nascimento de crianças arianas, proibindo abortos e contracepção, além de estimular oficiais das SS a terem muitos filhos, mesmo fora do casamento. Mulheres consideradas racialmente adequadas, incluindo as dos territórios ocupados, eram acolhidas em lares especiais para dar à luz. Ao mesmo tempo, milhares de crianças com características “arianas” eram raptadas da Europa Oriental, sujeitas a rigorosos testes raciais e germanizadas e vendo apagada a sua identidade original. Este projecto, idealizado por Heinrich Himmler, é uma das manifestações mais cruéis e distorcidas do conceito nazi de “pureza racial”.

A complexidade do “Lebensborn” vai muito além das imagens estereotipadas que surgiram após a guerra, frequentemente associadas a histórias sensacionalistas de bordéis nazis. Com efeito, as crianças nascidas nesses lares sofreram uma forte estigmatização e muitas foram vítimas de abusos, vivendo em silêncio sobre as suas origens durante décadas. A destruição de documentos e a ausência de relatos directos contribuíram para uma compreensão fragmentada e muitas vezes errada do programa. No entanto, a análise das experiências dos sobreviventes revela uma história de dor, identidade dilacerada e uma luta contínua por reconciliação com um passado marcado pela violência institucionalizada. O “Lebensborn” é um aviso sombrio sobre os perigos de ideologias que distorcem a humanidade em nome de falsas superioridades.

A fotógrafa Angeniet Berkers dedicou cinco anos a investigar e documentar o “Lebensborn”, visitando antigos lares e entrevistando sobreviventes, cuja coragem e resiliência desafiam o silêncio imposto por gerações. As suas fotografias e relatos ampliam a compreensão desse capítulo sombrio, mostrando que os vestígios físicos e humanos do programa ainda carregam um forte impacto emocional e histórico. Em tempos em que o nacionalismo e os discursos de exclusão ressurgem, revisitar essas histórias torna-se crucial para alertar contra a repetição de ideologias totalitárias. O “Lebensborn”, com a sua tentativa grotesca de controlar a reprodução e identidade humanas, permanece como uma chamada de atenção para o que ocorre quando o poder e o preconceito se unem com vista a aniquilar a diversidade e a liberdade individual.

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