Há muito tempo que activistas de todo o mundo, em áreas como as ciências, os negócios, a política, os direitos humanos e o meio ambiente, vêm alertando para os elevados custos da actual transição energética. Elementos fundamentais de uma cadeia que tem como objectivo afastarmo-nos em definitivo das energias fósseis, determinados elementos naturais transformaram-se em alvos privilegiados das indústrias extractivas, levando à destruição de vastas áreas florestais, alterando irremediavelmente os ecossistemas locais, reduzindo drasticamente a biodiversidade, aumentando a erosão dos solos e, consequentemente, o risco de inundações. “Critical Minerals - Geography of Energy”, série fotográfica de Davide Monteleone, o mais recente vencedor do Prémio Leica Oscar Barnack, actualmente exposta no Museu Nacional Soares dos Reis, ilustra os riscos que enfrentamos na busca desenfreada por energias mais sustentáveis, mostrando que estamos a repetir os erros do passado em vez de inaugurarmos um futuro mais justo, equilibrado e limpo.
Carros eléctricos, que supostamente melhorarão o equilíbrio climático, smartphones que se tornarão indispensáveis na comunicação quotidiana, baterias que poderão vir a armazenar o excesso de energia produzida pelas fontes eólica e solar, todos eles integram na sua constituição cobalto, cobre, níquel ou lítio, recursos que passaram a estar na mira das grandes indústrias. Ao encontro das regiões afectadas pelos trabalhos de extracção mineral, em países como a República Democrática do Congo, o Chile e a Indonésia, o que Davide Monteleone faz é mostrar-nos o reverso da medalha. Para concretizar a promessa de futuras tecnologias “limpas”, são necessários minerais específicos, mas a sua extracção faz-se em condições questionáveis, desumanas e ambientalmente perigosas: Trabalhadores descalços segurando ferramentas obsoletas em túneis com pouca segurança, água contaminada, paisagens devastadas e envenenadas. Não há região que o fotógrafo não tenha explorado com a sua lente, pondo a nu os enormes problemas resultantes da extracção de matérias-primas.
As vibrantes fotografias de paisagens, algumas das quais tiradas de uma perspectiva aérea, não poderiam ser mais enganadoras. Um exemplo eloquente é o do deserto do Atacama, no Chile, considerado um dos lugares mais secos do planeta. Ali, o lítio é processado em grandes lagoas de evaporação, mas a água escasseia nas torneiras, para desespero das populações. Outras fotografias tiradas por Monteleone dão-nos a ver Chuquicamata, uma cidade fantasma a ser soterrada lentamente pelos sobrantes de uma mina de cobre a céu aberto. Erguida para albergar os trabalhadores da mina, Chuquicamata rapidamente se viu “engolida” devida à quantidade crescente de escória, à deposição de poeiras e aos gases da fundição próxima. Em busca de conexões entre cada elemento e a história de um indivíduo ou comunidade a ele conectada, o artista mostra as diferentes relações entre humanos e consumo, natureza e economia, acção individual e geopolítica. Uma forma inteligente e impactante de informar e envolver o público, abrindo possíveis caminhos para uma cadeia de suprimentos mais sustentável e diversificada.
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