EXPOSIÇÃO: “Alguém ‘Passa Cartão’?”
Vários artistas
Comissariado e textos | Rita Maia Gomes
Museu da Tapeçaria de Portalegre - Guy Fino
31 Mai > 31 Dez 2025
No próximo ano, em 2026, a Manufactura de Tapeçarias de Portalegre comemorará 80 anos de existência. Celebrar-se-ão 80 anos de um saber-fazer que foi sendo aperfeiçoado ao longo do tempo e que representa um património de atestado valor, de reconhecida qualidade no mundo inteiro e cujo lugar na cultura portuguesa é inquestionável. Contudo, o futuro da Manufactura está comprometido pela falta de encomendas que garantam a continuidade - a continuidade que assegure a passagem de testemunho, isto é, a transmissão dos modos de fazer, da técnica e da sensibilidade necessárias para atingir o patamar de excelência que a Tapeçaria de Portalegre alcançou. “Alguém ‘Passa Cartão’?”, a exposição temporária que, por estes dias, pode ser vista no Museu da Tapeçaria de Portalegre - Guy Fino, surge, assim, como uma oportuna chamada de atenção para o risco, sobretudo, de extinção de uma marca identitária, um património em vias de desaparecer. Nela se mostram 45 cartões de de 19 artistas nacionais e internacionais, que passaram pela primeira fase de selecção do “Prémio Tapeçaria de Portalegre: a Tapeçaria de Portalegre como Expressão de Arte Contemporânea” e que, após a realização de uma imersão artística, foram convidados a apresentar propostas originais em pintura ou desenho, pensadas para a possível transposição em tapeçaria.
Um núcleo introdutório configura um apontamento histórico sobre a Manufactura de Tapeçarias de Portalegre, sublinhando a diversidade de propostas plásticas que foi integrando na sua produção. Para isso, apresenta-se um conjunto de cartões de alguns dos artistas que mais valorizaram a tecnologia da tapeçaria - Júlio Pomar, Cruzeiro Seixas, Nuno de Siqueira, Eduardo Nery, Vieira da Silva -, potenciando as suas propriedades e os seus propósitos. Pretende-se destacar o cartão não como uma obra ‘per si’, mas como o ponto de partida para o fabrico de uma tapeçaria. É nesse sentido que surge em lugar de destaque o cartão “Mouraria” de Maria Helena Vieira da Silva, através do qual se alude ao processo de trabalho das desenhadoras e tecedeiras da Manufactura, sendo o visitante convidado a apreciar o desenho de tecelagem e a respectiva tapeçaria. Num texto de 1996 a propósito deste cartão, Rui Mário Gonçalves referia: “É claro que os espaços de Vieira da Silva constituem um desafio para a técnica do tapeceiro. A Manufactura de Portalegre tem porfiadamente vencido este desafio, mas tanto os mestres da oficina como a própria pintora perceberam que não interessa muito imitar em tapeçaria os seus próprios guaches ou óleos. Ela própria encomendou uma vez a prévia passagem de uma sua pintura para a técnica de colagem, para que a frontalidade de cada área de cor e sua delimitação nítida lhe trouxesse a disciplina necessária para corresponder a encomendas de tapeçaria.”
O cerne da exposição traz-nos os cartões dos artistas apurados para a segunda fase do “Prémio Tapeçaria de Portalegre”, cujas obras abordam as temáticas propostas — Justiça, Paz, Produção Sustentável e Consumo Sustentável — refletindo o diálogo entre tradição e arte contemporânea. De notar que responderam à primeira fase do concurso cinquenta artistas, apresentando os seus portefólios. O juri de candidatura seleccionou vinte artistas para a segunda fase do concurso. Nesta galeria estão expostos os 45 trabalhos submetidos a concurso, com vista à atribuição de cinco prémios. O processo de avaliação e classificação contará com o parecer de um júri de selecção (80%) e com a votação do público numa plataforma online [AQUI] criada para o efeito (20%). Seleccionados para o prémio estão os artistas Beatriz Santa-Rita, Conceição Abreu, Dileydi Florez, Heather Chontos, Inês Cannas, Inês Pargana, João Gomes Gago, João Concha, Karen Karp, Luis Félix, Maísa Champalimaud, Mariana Gomes, Patrícia Sumares, René Tavares, Sílvia Patrício, Sofia Cruz, Stefanie Pullin, Tim Madeira, Valerie Aboulker, Vera Fonseka e Zory. Durante o período de 31 de maio a 30 de junho, o público poderá visitar e votar nas suas obras preferidas. Os cinco trabalhos finalistas serão anunciados a 12 de julho, durante as comemorações do 24.º aniversário do Museu. A exposição estará patente ao público até ao final do ano.
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