EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Blur”,
de Lara Jacinto
Curadoria | Susana Lourenço Marques
(In)visibilidades e Derivas
MIRA Galerias | MIRA FORUM
08 Mar > 03 Mai 2025
A complexidade da vida quotidiana nos países em redor do Adriático - uma região que, ao longo da História, tem passado por profundas alterações, com um passado de beligerância que engloba as guerras mundiais do século XX e a última guerra a ter lugar na Europa antes do novo milénio - está no centro de “Blur”, exposição de fotografia de Lara Jacinto, patente no MIRA Galerias | MIRA FORUM. “Blur” pretende apreender e transmitir a realidade de uma linha de fronteira tornada difusa graças a repetidas mudanças, determinadas por acontecimentos políticos de magnitude variável e com um forte impacto no tecido social e humano. Aos olhos daqueles que não pertencem à região e são alheios a esse forte sentido de alteridade que a história recente inculcou nela, em ambos os lados da fronteira, as semelhanças herdadas pelas travessias ao longo dos anos, a miscelânea de destinos de cada povo daquele território. As diferenças são superficiais e artificiais. “Blur” aborda esta identidade partilhada inconscientemente (pelo menos no que diz respeito aos hábitos culturais), a confusão entre fronteiras políticas e semelhanças entre povos e a dificuldade de estabelecer uma identidade que não seja, de certa forma, comum a todos.
“Blur” também aborda a incerteza do futuro - entre a tentação de criar fronteiras mais rígidas, a resistência à diferença, a ênfase dada àquilo que separa os povos e tudo aquilo que contraria o ideal europeu de unidade, agora perdido. É uma viagem emocional num território partilhado vulnerável, onde se agrupam diferentes influências culturais, religiosas e políticas, combinando-se e criando um universo tão fascinante quanto contraditório - belo e repulsivo, emocional e racional, seguro e hostil. Não se pode olhar para este universo sem pensar duplamente: por um lado, as questões que perturbam a Europa, a situação dos refugiados, a ameaça terrorista e a instabilidade política; por outro lado, a dispersão das fronteiras, a reconfiguração do território, as questões identitárias, a guerra e a disputa geográfica e étnica que ocorreu nos Balcãs. Embora se trate de uma região onde algumas políticas se esforçam por resistir à contaminação cultural e por apoiar a ideia de identidade e de diferença, a paisagem humana está, no entanto, a misturar-se por todo o lado. Neste contexto, é premente questionarmo-nos sobre o que define, de facto, a proximidade entre as pessoas.
Num primeiro contacto com um espaço cultural e geograficamente estranho, há uma tendência natural para reparar nas diferenças. As imagens tornam-se mais nítidas e destacam uma geração mais jovem com diferentes origens, etnias e religiões, uma sociedade que prepara o seu futuro na Europa. Alguns estudam ou trabalham, outros não têm profissão, mas todos vivem um quotidiano idêntico e têm objectivos de vida semelhantes. Vestem as mesmas roupas, usam os mesmos modelos de smartphones, ouvem a mesma playlist, aspiram aos mesmos luxos e aos mesmos divertimentos e adoptam comportamentos sociais recorrentes. Quando observamos estes europeus, tendemos a desenvolver alguma identificação, e a nossa proximidade e empatia aumentam à medida que as semelhanças se revelam. Apesar da distância, percebe-se que é muito mais o que os une do que aquilo que os separa. É esta realidade que pode ser apreciada no simpático espaço de Campanhã, até 03 de Maio.
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