Páginas

quinta-feira, 24 de abril de 2025

EXPOSIÇÃO DE DESENHO: "Activia-40" | Rui Carvalho



EXPOSIÇÃO DE DESENHO: “Activia-40”,
de Rui Carvalho
6.ª Bienal Internacional de Arte Gaia 2025
05 Abr > 12 Jul 2025


“As minhas raízes são madeirenses, mas as minhas experiências não.”
Rui Carvalho

Entre os muitos méritos que se devem reconhecer num certame como a Bienal Internacional de Arte Gaia, um há que se afigura determinante no seu percurso e o torna distinto e particularmente apelativo. Falo da diversidade de propostas a abranger um leque vasto de expressões artísticas e que, em diálogo fecundo entre si, fazem da Bienal um imenso laboratório de ensaio de novos conceitos e novas visões da arte. É neste contexto que olhamos para “Activia-40”, conjunto de desenhos com assinatura de Rui Carvalho capazes de nos oferecerem a visão pessoal de um mundo fantástico, povoado de criaturas bizarras que nos perscrutam com olhos grandes e honestos e nos acenam de forma franca. Irresistíveis na sua sinceridade tranquila, as figuras pedem que as acompanhemos numa viagem a um mundo que é, afinal, também nosso, tornado real nas memórias que convoca, sejam elas de liberdade e justiça, mas também de medo e descrença, nos quais, frequentemente, nos vemos mergulhados.

Rui Carvalho nasceu no Funchal, em 1964, e vive actualmente em Lisboa. Desde 1982 que desenha e pinta regularmente. Viajante por geografias que se fazem presença em experiências de vida acumuladas, a sua obra deve-se muito especialmente a um enorme labor e persistência, derramando-se em liberdade e autenticidade que mais não são do que frutos de uma intensa pulsão interior. Afastado dos meios que legitimam a arte contemporânea, a produção foi sendo vendida pelo artista nas ruas das cidades que habitou: Do Funchal a Zurique, de Berlim a Lisboa. Conhecidos sobretudo num círculo restrito de amigos, os seus trabalhos despertaram alguma curiosidade e atenção no meio artístico português com uma exposição organizada no Funchal em Maio de 2000. Com uma obra frequentemente desenvolvida a partir de referências que a colocam na esfera da Arte Bruta, Rui Carvalho tem com esta presença na Bienal de Gaia, mais uma prova do reconhecimento de um percurso singular e atípico, feito à revelia das academias e dos circuitos habituais.

Num trajecto talhado ao gosto e à medida de cada um, “Activia-40” é um dos mais fascinantes destinos desta Bienal. No imediatismo dos seus trabalhos, Rui Carvalho estabelece com o visitante uma relação generosa e aberta, como se de velhos conhecidos se tratasse. Seguimos o traço sobre o papel e o rosto abre-se num sorriso ao ver como, cinquenta anos passados sobre o dia inicial inteiro e limpo, as espingardas voltam a florir nas mãos dos soldados e os gritos das gaivotas parecem acompanhar os vivas à liberdade. Se recuarmos no tempo, porém, são monstruosas as figuras que se oferecem ao nosso olhar, espalhadas ao vento quais dragões chineses a lembrar momentos em que nos afastámos e escondemos de nós mesmos em sucessivos episódios pandémicos, ou os tempos dolorosos da crise em que nos chamaram “piegas” por não termos pão para comer e casa para viver. O bem e o mal como faces da mesma moeda, no viver e na forma de o dizer de um artista de excepção.

Sem comentários:

Enviar um comentário