EXPOSIÇÃO: “Linha de Maré. Coleção do CAM”
Vários artistas
Curadoria | Ana Vasconcelos, Helena de Freitas, Leonor Nazaré
Centro de Arte Moderna - Fundação Calouste Gulbenkian
21 Set 2024 > 11 Mai 2026
“Linha de Maré” parte da Revolução de 25 de Abril de 1974 para chegar aos dias de hoje, reflectindo sobre as revoluções em curso, sobretudo as relacionadas com o planeta. Organizada em torno de grandes instalações, a exposição define-se pelo ritmo que estas imprimem e pela ligação que estabelecem com outras obras na sua vizinhança. Estas instalações correspondem, de forma fluida, a um conjunto de ideias que enquadraram a escolha das obras: transgressão (em relação à ditadura portuguesa), manifesto (o primeiro manifesto ecológico artístico português), interioridade (da experiência proposta pela obra), mutação (tecnológica, pós-humana) e evocação (de uma ligação real com o mundo vivo). A maioria das obras contemporâneas presentes dialoga com uma seleção de obras modernistas, ilustrando a amplitude temporal da coleção do Centro de Arte Moderna e criando linhas de tensão entre os diferentes períodos que abrange.
O título da exposição é inspirado numa obra de Hamish Fulton, Tide Line (1994-2005), que dá as boas-vindas ao público ainda antes da entrada da galeria, e evoca a marca que surge na superfície da água devido à confluência de correntes no alto mar. O encontro destas correntes gera uma linha orgânica de espuma, de maior ou menor turbulência, e que deve ser atravessada com precaução. A ideia da confluência de correntes, assim como o enorme leque de ressonâncias literais e metafóricas que evoca, são transversais a títulos, representações, conceitos e emoções trabalhados pelos artistas. Podem ser utilizadas para falar da natureza, da vida interior das pessoas, das fronteiras impostas, da destruição ou das revoluções. E projectam-se no espaço, transformando a galeria num lugar orgânico no qual se pretende resgatar a relação com o mundo vivo num planeta em que o artificial se vai tornando norma.
“Linha de Maré” inclui obras em pintura, desenho, vídeo, fotografia e escultura e, das 99 obras expostas, muitas são aquisições recentes nunca antes apresentadas no Centro de Arte Moderna. São disto exemplo as obras de Mónica de Miranda, Filipa César, Graça Pereira Coutinho e Paulo Nozolino, postas em diálogo com trabalhos de artistas como Graça Morais, António Dacosta, Rui Chafes, Lourdes Castro ou Ana Hatherly. A presença de algumas obras modernistas, datadas da primeira metade do século XX, sublinha a importância da dinânima geradora de rupturas e cumplicidades inerente a toda a criação artística. Entre os dois extremos temporais desta “Linha de Maré”, uma chamada de atenção para “Apocalipse à Portuguesa”, livro de artista de Hein Semke que ilustra a sua visão do período imediatamente seguinte ao 25 de Abril de 1974, e ainda para “Bardo Loop”, de Gabriel Abrantes, conjunto de quatro pequenos filmes que figuram o desastre civilizacional em curso.
Sem comentários:
Enviar um comentário