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domingo, 12 de janeiro de 2025

CONCERTO: Buba Espinho & Bandidos do Cante



CONCERTO: Buba Espinho & Bandidos do Cante
Centro de Artes de Ovar
10 Jan 2025 | sex | 21:30


Embora curta, a carreira musical de Buba Espinho é um exemplo de sucesso. Entre o Fado e o Cante Alentejano, o cantor natural de Beja posiciona-se hoje, ao lado de António Zambujo e Luís Trigacheiro, como um dos grandes embaixadores da cultura alentejana. Filho e neto de músicos, traz o espírito do Cante rijamente inculcado no seu ADN e a prova disso foi o concerto que deu em Ovar, numa sala praticamente esgotada. Juntando à beleza da sua voz e à qualidade das músicas uma natural humildade e genuinidade, Buba Espinho soube conquistar o público pela forma como a ele se dirigiu e pelo bonito sorriso a espelhar a alegria de poder fazer aquilo que mais gosta junto de quem o sabe apreciar. Neste que foi o seu primeiro concerto de 2025, subiu ao palco na companhia de Luís Aleixo (guitarra e voz), Bruno Chaveiro (guitarra portuguesa e voz), António Manuel Santos (teclas e voz), Jimmy (baixo eléctrico e voz) e Luís Delgado (bateria). Com um pé em “Buba Espinho” (2020) e outro em “Voltar” (2023), os seus dois álbuns de estúdio editados até à data, fez do tempo do concerto um momento de homenagem ao Alentejo, revisitando algumas das suas modas mais populares e honrando a tradição no seu modo único de cantar.

“Tens o sol no coração / Com uma bola na mão / És rei de polo em polo / Fintas todo o mal do mundo / E da linha de fundo / Rematas para o meu colo”.“Jardim Paraíso”, “Afã” e “Digo que Devo Continuar” foram os temas escolhidos para abrir o concerto, cruzando o projecto “Há Lobos Sem Ser na Serra”, com os álbuns em nome próprio e com as colaborações com outros grupos, nomeadamente os Cordel, de Edu Mundo e João Pires. O cuidado de não entrar “a pés juntos” no universo do Cante teve o condão de chamar a atenção para a riqueza que se esconde numa infinidade de músicas, levando o público por paisagens sonoras que têm no Alentejo o seu ponto de partida e se estendem às terras quentes da Andaluzia, da Estremadura e do Norte de África. Rumo ao cancioneiro tradicional, a viagem prosseguiu com “Roubei-te um Beijo”, “Gotinha de Água” e “Não É tarde Nem é Cedo”, palmas a compasso e gargantas ao rubro numa das sequências mais celebradas da noite. Pelo meio “Casa” fez elevar ainda mais o volume na sala, nesse refrão cantado por todos - “A dar-te um beijo / Aninhado ao teu peito” -, volume que foi ao máximo com “Menina Estás à Janela”.

Convidados de honra, os Bandidos do Cante – Duarte Farias, Francisco Raposo, Miguel Costa e Francisco Pestana - fizeram sentir a sua presença em palco, interpretando três temas que não só reforçaram a qualidade e beleza de um concerto de excepção, como mostraram que, com herdeiros desta natureza e calibre, a cultura musical alentejana e a tradição do Cante não correm o risco de desaparecer. “No Verão / A brasa dourada e celeste / Queimando este solo agreste / Dourando mais as espigas / Ceifeiros, corpos curvados / Ceifando e atando em molhos / A benção loira da vida”. Sozinho em palco, as palavras escutadas em respeitoso silêncio, Buba Espinho protagonizou com “Verão, Alentejo e os Homens” um dos mais belos momentos da noite, o Fado a abraçar o Cante, a simbiose perfeita entre duas entidades inscritas na Lista Representativa do Património Cultural Imaterial da Humanidade. “Ao Teu Ouvido”, “Zé de Alfama” e “Os Guardas Bateram” colocaram um ponto final no alinhamento do concerto, mas Buba Espinho e os seus convidados haveriam de voltar ao palco para espalhar magia com “É Tão Grande”, o Cante entoado na sua forma mais pura, sem o acompanhamento dos instrumentos. “Casa” voltou a cantar-se em uníssono, com mais força ainda, vincando essa nota de “verdade” e de “família” que a todos uniu neste início de 2025.

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