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quinta-feira, 4 de julho de 2024

LUGARES: Museu Nacional Machado de Castro



LUGARES: Museu Nacional Machado de Castro
Largo Dr. José Rodrigues, Coimbra
Horários | Das 10:00 às 18:00 (encerra às segundas-feiras)
Ingresso | Bilhete normal € 8,00


Fundado em 1911, o Museu Nacional Machado de Castro, abriu ao público, em outubro de 1913 e teve como seu primeiro diretor António Augusto Gonçalves. O museu ocupa o antigo edifício do Paço Episcopal, construído sobre o criptopórtico do fórum de Æminium que constitui a mais significativa obra romana, datada do século I, em território nacional. Trata-se de uma galeria de dois pisos que sustentava o fórum e que era usada também para conservar alimentos, uma vez que se mantinha fresca e protegida da luz. Entre os séculos XII-XVIII foram erguidos e remodelados vários edifícios para residência episcopal. Das inúmeras reestruturações, destacam-se os vestígios do claustro românico do período Condal (c. 1100-1140) pertencente à igreja colegiada de São João de Almedina, a sua clássica e harmoniosa Loggia de finais do séc. XVI e, por fim, a renovada Igreja de São João de Almedina de finais do século XVII inícios do século XVIII. Um pormenor interessante do Paço Episcopal é uma porta moçárabe, hoje integrada no edifício do museu, construída depois da reconquista definitiva da cidade aos muçulmanos.

O Museu Nacional Machado de Castro é um dos mais importantes museus de belas-artes e arqueologia do país, percorrendo uma história com mais de dois mil anos. É inegável a importância deste equipamento, seja pelo valor patrimonial e científico do edifício, seja pelo seu acervo imóvel constituído por diversos núcleos museológicos de indiscutível importância ou pela qualidade estética de um elevadíssimo número de espécies – elevando-se a mais de uma centena as peças classificadas como de Interesse Nacional, designadas também por ‘Tesouros Nacionais’. Entre as colecções destaca-se a escultura, constituindo um núcleo de referência obrigatória, sendo o museu frequentemente identificado como o museu da escultura nacional. A apresentação deste núcleo mostra-se particularmente inovadora, graças à presença integradora da Capela do Tesoureiro para a escultura retabular renascentista, ou à forma de apresentação da Última Ceia de Hodart, em ambiente quase oficinal. Neste último caso, o visitante é convidado a seguir as várias fases do trabalho de restauro desta obra e a participar, de forma interactiva, neste processo de descoberta.

Em certo sentido, pode considerar-se que este núcleo, a que se juntam outros igualmente importantes de pintura, cerâmica e mobiliário, têxteis e tapeçaria, formam um conjunto fechado, unitário, identitário. Uma identidade que pode considerar-se sublinhada pelo próprio edifício com a conversão do outrora Paço Episcopal em Museu, dualidade que se manifesta no plano das ideias e das instituições, dada a vocação predominantemente religiosa do edifício e das coleções. A intensa atividade doutrinal, ideológica e mecenática do local teve a sua tradução plástica e visual nas obras de arte que se contemplam no Museu – desde as representações simbólicas do românico ao intimismo do gótico tardio, desde o naturalismo do séc. XVIII, até à exaltação mística das esculturas barrocas. Essa afinidade básica entre edifício e colecções expressa-se ainda em pequenos aspectos ou detalhes, em pequenos encontros ou confluências: a ausência da separação entre o sagrado e o profano, entre o sério e o cómico, tão próprio dos clássicos e da mentalidade renascentista, expressa em seres fantásticos nos portais, nos relevos escultóricos, na pintura, na tapeçaria.

Já neste século, o museu foi alvo de um arrojado projecto de requalificação e ampliação de espaços, da autoria do arquitecto Gonçalo Byrne. Dotar o edifício de condições de acessibilidade total e conquistar uma dimensão de proximidade com o público, aproximando este lugar do que terá sido o fórum inicial, foi a sugestão programática a que o arquitecto deu forma modelar. “Cavalleiro da Ordem de Christo, Esculptor da Casa Real e Obras Públicas”, Joaquim Machado de Castro nasceu em Coimbra a 19 de junho de 1731. Revelando, desde muito cedo, uma enorme aptidão para a arte que descobriu com seu pai, Manuel Machado Teixeira, Machado de Castro repôs a tradição da escultura em pedra, numa época em que em Portugal predominava a escultura em madeira, e corporizou um grande esforço no sentido da dignificação da escultura e do seu ofício. Da sua vasta produção destacam-se, além dos trabalhos que executou, diversos estudos, desenhos e modelos preparatórios, e uma obra literária ímpar: escritos e teorizações sobre escultura que reafirmam constantemente o seu caráter intelectual.

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