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sexta-feira, 26 de abril de 2024

EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Os Mercados e a Tradição Pascal em Castelo de Vide”



EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Os Mercados e a Tradição Pascal em Castelo de Vide”,
de Diogo Margarido
Átrio dos Paços do Concelho de Castelo de Vide
27 Mar > 01 Mai 2024


Em Castelo de Vide assistimos a uma fusão de culturas e religiões que, segundo os investigadores, é única no mundo. As celebrações da Páscoa, a gastronomia ou a onomástica da população local, são testemunhos vivos das influências judaicas na região, de finais do século XV até aos nossos dias. No tocante aos ritos pascais - para os castelovidenses a festa da família por excelência, com mais relevância até que o Natal -, para além das habituais procissões do Enterro do Senhor e da Ressurreição (em cujo cortejo não estão presentes quaisquer imagens religiosas), são de referir a Emulação do Cordeiro Pascal, a Benção dos Borregos e o almoço de Páscoa que junta toda a família à mesa e em que nenhuma outra carne, para além do cordeiro, é servida. É o tempo do Sarapatel, dos molhinhos de tomatada e do cachafrito, do folar e do bolo finto, das queijadas e das boleimas. Na memória de muitos restam ainda os mercados como momentos importantes nos dias que antecediam a Páscoa, transformados em locais de compra e venda, mas também de convívio e de troca de ideias entre a população.

“Os Mercados e a Tradição Pascal em Castelo de Vide” recupera, através do olhar de Diogo Margarido, esses momentos únicos de reunião e partilha. Nascido no Escoural em 1932, num contexto humilde que não lhe permitiu uma formação estética e técnica de base, a sua ligação à fotografia surge com o ingresso na CUF - Companhia União Fabril, e ligação ao Departamento Fotográfico do Grupo Desportivo da CUF. O forte associativismo operário da zona do Barreiro foi também determinante, cujas bibliotecas alimentaram um espírito curioso e insatisfeito, com câmara emprestada, e sem acesso a laboratório, dependendo das casas comerciais para revelação e ampliação dos seus trabalhos. Uma vida profissional intensa ligada à indústria não evitaria uma continuada prática fotográfica, numa aprendizagem esmagadoramente autodidacta, fundada numa colecção de livros que foi acumulando e num investimento pessoal em equipamento. Foi este Diogo Margarido que no século XX descobriu e retratou a etnografia, a preto e branco, de Castelo de Vide, registando quadros verdadeiramente únicos e elucidativos da vida quotidiana, festiva e popular desta sua segunda terra.

Uma parte do seu imenso acervo sai agora à rua para enriquecer a oferta cultural da Páscoa castelovidense, com uma selecção de vinte quadros que ilustram uma realidade perdida no dealbar deste novo século. O átrio dos Paços do Concelho volta a ser ponto de encontro de quem pretende conhecer ou recordar a tradição. É lá que vamos ao encontro da Procissão e dos momentos que a antecedem, da banda de música que afina os últimos acordes, das pessoas que aguardam sentadas nos muros a passagem do cortejo, de gente nas varandas, anjinhos, freiras, o padre debaixo do pálio com a custódia. Mas também do mercado onde os borregos aguardam em cortes improvisadas a hora de serem comprados e onde percebemos outros que já seguem às costas de novo dono. Há quem venda cestaria e quem venda alhos, há quem esteja a apreçar e quem esteja apenas a apreciar. No seu modo de retratar a azáfama à sua volta, Diogo Margarido capta de forma única os olhares que se estendem para fora de campo, deixando-nos a tarefa de imaginar aquilo que a fotografia não mostra. Para ver até 01 de Maio.

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