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terça-feira, 26 de março de 2024

CONCERTO: Buba Espinho & Bandidos do Cante



CONCERTO: Buba Espinho & Bandidos do Cante
Cine-Teatro de Estarreja
23 Mar 2024 | sab | 21:30


“No Verão / A brasa dourada e celeste / Queimando este solo agreste / Dourando mais as espigas / Ceifeiros, corpos curvados / Ceifando e atando em molhos / A benção loira da vida”. Entoadas numa voz límpida e melodiosa, foram estas as palavras que abriram o concerto de Buba Espinho, na noite do passado sábado, no Cine-Teatro de Estarreja. Escutada em respeitoso silêncio, ou não fosse “Verão, Alentejo e os Homens” um Fado, a música abraça, na voz do cantor, o espírito do Cante Alentejano, género musical profundamente inculcado nas suas raízes de bejense de gema. Estava dado o mote para uma hora e meia de concerto, marcado pela perfeita união entre dois patrimónios culturais imateriais da humanidade, mas também pela forte empatia que, desde os instantes iniciais, se estabeleceu entre músicos e público. Empatia devida, no essencial, à generosidade e humildade de Buba Espinho, à sua genuinidade e espontaneidade, à forma como olha o público e a ele se dirige, ao seu bonito sorriso a espelhar a alegria de poder fazer aquilo que mais gosta e que é cantar.

Acompanhado por um extraordinário quinteto de músicos onde pontificam Manuel Oliveira (teclados), Bruno Chaveiro (guitarra portuguesa), Luis Aleixo (guitarra e voz), Chico Santos (baixo elétrico) e Francisco Santos (bateria), Buba Espinho embarcou  numa viagem por alguns dos seus temas mais recentes, mostrando o quanto de tradição pode caber na música dita ligeira. São disto exemplo “Larguei as Cordas”, “Hoje é o Dia”, “Ao teu Ouvido”, “Os Guardas Bateram” e, sobretudo, “Folga do Arlequim”, poema e música de Agir, pedacinho de felicidade a unir os presentes e a aconchegar o peito com um calorzinho bom. Com “Casa”, o público deu as mãos “em nome do amor” e mal romperam os primeiros acordes, soltaram-se as gargantas: “A dar-te um beijo / Aninhado ao teu peito”. Gargantas que não tiveram como calar-se face ao apelo de alguns dos temas que se seguiram, verdadeiros “hinos nacionais”, como o são “Gotinha de Água”, “Roubei-te um Beijo” ou “Menina Estás à Janela”, este último já com os Bandidos do Cante em palco.

Convidados de honra de Buba Espinho neste concerto em Estarreja, os Bandidos do Cante – Duarte Farias, Francisco Raposo, Miguel Costa e Francisco Pestana, a quem se junta o já referido Luís Aleixo – cantaram e encantaram. Foi com o acrescento das suas vozes que o Cante Alentejano se mostrou em toda a sua pureza e beleza. “Um Dia hei-de Voltar” trouxe-nos o ondular das searas ao vento e o aroma do trigo acabado de ceifar, prolongados no muito sentido “Menina Estás à Janela” e no jovial e atiradiço “Não é Tarde nem é Cedo”, palmas a compasso e uma música feita assobio a pôr os maiores sorrisos nos rostos de todos. Houve ainda esse momento de exclusividade, apenas com os “cinco bandidos” em palco, “Se eu soubesse / Serias minha amiga eterna / Não deixaria a minha terra / Amigos coloridos só.” Um muito aplaudido fado “Zé de Alfama” colocou um ponto final no alinhamento do concerto, mas Buba Espinho e os seus convidados haveriam de voltar ao palco para espalhar magia com “É Tão Grande”, o Cante entoado na sua forma mais pura, sem o acompanhamento dos instrumentos. “Casa” voltou a cantar-se em uníssono, com mais força ainda, deixando essa nota de “verdade” e de “família” que a todos uniu no tempo deste magnífico concerto.

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