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sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

LUGARES: Museu da Água



LUGARES: Museu da Água
Aqueduto das Águas Livres, Reservatório da Mãe d’Água das Amoreiras, Reservatório da Patriarcal, Estação Elevatória a Vapor dos Barbadinhos, Galeria do Loreto
Horários e ingressos | Consultar página do Museu da Água


O Museu da Água dinamiza um conjunto de monumentos e edifícios, construídos entre os séculos XVIII e XIX, que representam um importante capítulo da história do abastecimento de água à cidade de Lisboa: Aqueduto das Águas Livres, Reservatório da Mãe d’Água das Amoreiras, Reservatório da Patriarcal, Estação Elevatória a Vapor dos Barbadinhos e ainda um conjunto de aquedutos subterrâneos, dos quais a Galeria do Loreto é actualmente o único com condições para ser visitado. Para além da musealização dos espaços patrimoniais, que oferecem um percurso único pelos caminhos da água na cidade de Lisboa, o Museu da Água apresenta, no edifício da Estação Elevatória a Vapor dos Barbadinhos, a exposição permanente que permite, por um lado, entender a relação existente entre os vários espaços que constituem este Museu e, por outro lado, conhecer uma multiplicidade de assuntos relacionados com a Água.

Começando pela Estação Elevatória a Vapor dos Barbadinhos, importa dizer que foi primordialmente um Reservatório que recebia as águas do Aqueduto do Alviela, construído emtre 1871 e 1880 para dar resposta às necessidades do precioso líquido face ao crescimento populacional que a cidade de Lisboa conheceu na segunda metade do Século XIX. Junto do Reservatório dos Barbadinhos foi construída uma estação elevatória a vapor, destinada a bombear água para a cidade de Lisboa, que inaugurou a 3 de Outubro de 1880. A “Sala das Máquinas” localizava-se no piso superior da zona do edifício e albergava as quatro máquinas a vapor, do fabricante francês E. Windsor & Fils (Ruão, Normandia), adquiridas em 1876. No piso térreo encontrava-se a “Sala das Bombas”, onde residiam as respectivas bombas. Num outro corpo estavam as cinco caldeiras, na designada “Sala das Caldeiras”. São esses testemunhos enriquecedores da arqueologia industrial que podem ser vistos hoje, valendo a pena determo-nos nos deliciosos detalhes arquitectónicos da “Sala das Máquinas”.

Construído entre 1731 e 1799, por determinação régia, o Aqueduto das Águas Livres constituiu um vasto sistema de captação e transporte de água, por via gravítica. Classificado como Monumento Nacional desde 1910 é considerado uma obra notável da engenharia hidráulica. A concretização desta obra implicou o recurso às nascentes de água das Águas Livres integradas na bacia hidrográfica da serra de Sintra, na zona de Belas, a noroeste de Lisboa. O trajecto escolhido coincidia, em linhas gerais, com o percurso do antigo aqueduto romano. A sua construção só foi possível graças a um imposto denominado Real de Água, lançado sobre bens essenciais como o azeite, o vinho e a carne. O sistema, que resistiu ao terramoto de 1755, é composto por um troço principal, de 14 km de extensão, com início na Mãe de Água Velha, em Belas, e final no reservatório da Mãe de Água das Amoreiras, em Lisboa; complementam-no vários troços secundários destinados a transportar a água de cerca de 60 nascentes e ainda cinco galerias para abastecimento de cerca de 30 chafarizes da capital. Visitável em quase toda a sua extensão, a extraordinária arcaria do vale de Alcântara, numa extensão de 941 metros, é composta por 35 arcos, incluindo, entre estes, o maior arco em ogiva, em pedra, do mundo, com 65,29 m de altura e 28,86 m de largura.

A entrada em Lisboa do Aqueduto das Águas Livres, marcada pelo arco da Rua das Amoreiras, realizado pelo arquitecto húngaro Carlos Mardel, entre 1746 e 1748, fechou-se no Reservatório da Mãe d’Água das Amoreiras. A cisterna conheceu três plantas, apresentando um projecto inicial cuja implantação incluía mais três arcos levando o edifício até à face norte do Largo do Rato. No projecto final, o reservatório surgiu simplificado com a diminuição do número de tanques e da carga decorativa exterior. Apesar de ter sido várias vezes retomada, a obra do Reservatório só viu terminado o remate da cobertura e mais alguns pormenores em 1834, já durante no reinado de D. Maria II. Actualmente, o Reservatório da Mãe d’Água apresenta-se como um espaço amplo, luzente e unificado, sugerindo o seu interior a planta de uma igreja estilo Salão, propondo a sacralidade do espaço. A água das nascentes jorra da boca de um golfinho sobre uma cascata, construída com pedra transportada das nascentes do Aqueduto das Águas Livres, e converge para o tanque de sete metros e meio de profundidade, que apresenta uma capacidade de 5.500 m3. Do tanque emergem quatro colunas que sustentam um tecto de abóbadas de aresta que, por sua vez, suporta o magnífico terraço panorâmico sobre a cidade de Lisboa. Na frente ocidental deste reservatório encontra-se a Casa do Registo, local onde se controlavam os caudais de água que partiam para os chafarizes, fábricas, conventos e casas nobres.

Instalado no subsolo do jardim do Príncipe Real, o Reservatório da Patriarcal, também denominado por Reservatório da Praça de D. Pedro V, foi projectado em 1856, integrado no projecto de abastecimento de água a Lisboa do Engenheiro francês Louis-Charles Mary. Programado para abastecer a zona baixa da cidade de Lisboa, este reservatório foi construído entre 1860 e 1864. A sua forma octogonal coincide com a do polígono representado pelo gradeamento de ferro em volta do lago que está localizado sobre o depósito, no centro do jardim do Príncipe Real. A função principal deste reservatório foi a regulação da pressão entre o Reservatório do Arco (na Rua das Amoreiras) e a canalização da zona baixa da cidade. Os trinta e um pilares de 9,25 metros, com diferentes larguras, suportam os arcos em cantaria, que por sua vez sustentam as abóbadas. Sobre as abóbadas assentou a bacia (lago) munida com o repuxo. Tanto o lago como o repuxo estariam destinados a arejar as águas antes delas entrarem no depósito. Partem deste reservatório três galerias subterrâneas, a primeira das quais rompe da parede Leste e vai encontrar a galeria do Loreto.

Finalmente, a Galeria do Loreto que acaba de abrir ao público para visitas guiadas e comentadas. Foi uma dessas visitas que tive a oportunidade de acompanhar, num percurso com cerca de 700 metros e que liga o Reservatório da Mãe d’Água das Amoreiras e o Reservatório da Patriarcal. O seu traçado, porém, tem uma extensão de 2835 metros e fazia parte do sistema de distribuição de água para importantes chafarizes de Lisboa entre os quais o de São Pedro de Alcântara e o do Loreto que foi demolido em 1853 e que se situava no Largo do Chiado. A Galeria do Loreto tem o seu início na Casa do Registo, contígua ao Reservatório da Mãe d’Água das Amoreiras, na Rua das Amoreiras e desce no mesmo alinhamento da Rua das Amoreiras até ao Largo do Rato. Tem passagem, no mesmo alinhamento, pela Rua da Escola Politécnica e Rua D. Pedro V, prosseguindo pela Rua da Misericórdia, atravessando o Largo do Chiado, seguindo pela Rua Paiva de Andrade e terminando no Largo de São Carlos. Esta galeria abasteceu alguns estabelecimentos públicos onde se destaca a Imprensa Nacional, o Passeio Público, a Misericórdia, o recolhimento de S. Pedro de Alcântara, o Passeio de S. Pedro de Alcântara e o Quartel da Guarda Municipal do Carmo.

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