TEATRO: “Don Juan Esfaqueado na
Avenida da Liberdade”
Texto e direcção artística |
Pedro Gil
Cenografia e adereços | Pedro Silva
Figurinos | Catarina Graça
Interpretação | Filipa Matta,
Miguel Loureiro, Pedro Gil, Raquel Castro, Rita Calçada Bastos,
Tónan Quito
Direcção de produção | Raquel
Castro
Co-produção | Barba Azul, São
Luiz Teatro Municipal, Teatro Municipal do Porto, Centro Cultural
Vila Flor
135 minutos (com intervalo) |
Maiores de 16 anos
FITEI – Festival Internacional de
Teatro de Expressão Ibérica
Teatro do Campo Alegre
24 Mai 2019 | sex | 19:00
Do cinema à pintura, da música ao
teatro, são inúmeras as criações artísticas que beberam a
inspiração no mito de Don Juan. Exemplo maior do imaginário comum,
a lenda fala-nos de um intrépido sedutor que assassina um Comendador
após conquistar o coração da sua jovem filha. Quando, algum tempo
mais tarde, encontra num cemitério a estátua do homem que matou,
jocosamente convida-a para jantar, ao que esta prontamente acede.
Procurando não se mostrar intimidado com a reacção de tão
invulgar interlocutor, Don Juan prossegue com as suas fanfarronices
e, ao apertar a mão à estátua para selar o acordo, vê-se por ela
arrastado para o Inferno.
Pegando em matéria tão rica de
significados, o colectivo Barba Azul decidiu dar um novo sentido à
história e criar a sua própria versão, fazendo subir ao palco este
“Don Juan Esfaqueado na Avenida da Liberdade”. Preenchendo parte
do programa do último fim de semana do FITEI – Festival
Internacional de Teatro de Expressão Ibérica, a peça mostra-nos um
Don Juan que, depois daquele inesperado encontro, se esquiva ao
aperto de mão da estátua e que, consequentemente, se vê
perseguido, para onde quer que vá, pelo fantasma do Comendador. A
solução passa por fugir no tempo, após uma “ida à bruxa” e a
confirmação de que a maldição é irrevogável no tempo presente.
Por artes mágicas, Don Juan acaba por “aterrar” no século XXI,
em plena Lisboa, onde maldições de outra ordem o esperam.
Dividida em duas partes distintas,
separadas entre si por um “conveniente” intervalo, a peça está
recheada de momentos de humor e de bom teatro, embora isto seja
sobretudo válido para a primeira metade. Os momentos em que Tónan
Quito, no papel de Don Juan, se confronta ao mesmo tempo com as
quatro amantes ou em que Rita Calçada Bastos, deixando a aldeia
natal, se encontra com o seu amor e lhe explica que está grávida,
são absolutamente geniais. Tudo decai sobremaneira na segunda parte,
a pouca originalidade a ceder espaço ao lugar comum e a um certo mau
gosto, salvando-se, apenas, o quadro do “nenúfar”. Com a peça a
chegar ao fim, a previsibilidade adensa-se e o riso torna-se amarelo. Às mãos de delinquentes, madrugada alta, Don Juan morre sem glória
e, com ele, uma peça que tanto prometia.
[Foto: Miguel Loureiro | facebook.com/miguelinho.loureiro]
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